segunda-feira, 14 de junho de 2010

Primeiros pensamentos

Sejam bem-vindos, leitores!

É realmente difícil descrever esse ato que realizamos sempre e sequer notamos, talvez a imagem da Penseira nos sirva bem a esse propósito, o ato de pensar em constantes rodopios e perspectivas. Os pensamentos, por mais que nos assombrem, estão em conexão com o que somos e (quase sempre) nos são compreensíveis. A grande dificuldade está em dividí-los com alguém, sabendo da possibilidade de ser visto como um louco, ser criticado ou humilhado, por que ao transmitir nossas reflexões, mergulhamos num mar de conceitos em que podemos nos afogar sem nunca transmitir. Não é fácil dividir pensamentos, então desculpem as possíveis reflexões ilógicas e mal formuladas, pois é difícil controlar o fluxo de rodopios e transferir lógica aos meus subjetivos pensamentos.

Hoje, postarei esse primeiro pensamento, sobre algo que muito me incomoda na série Potter há alguns anos e que talvez seja a única grande divergência que tenho com os modelos de Hogwarts: A seleção e divisão por Casas. Sei que será visto por muitos como uma grande heresia e espero fortes comentários a esse respeito, lembrando que está é minha opinião e não necessariamente as impressões do Flávio sobre o assunto.

Não adiantarei mais nada, apenas os convido a adentrar o mundo de meus rodopiantes pensamentos.

Divisão sem fundamento

Desde os primeiros capítulos de Pedra Filosofal, notamos as divisões no mundo mágico e escolhemos um lado. Harry Potter é a saga das escolhas, sem dúvida. A primeira e, possivelmente, mais importante divisão é a das casas de Hogwarts. Todo fã já fez sua escolha, baseando-se nos quesitos para pertencer a cada casa. Entretanto, conforme os anos passaram e o mundo Potter se tornou mais complexo e interessante, notei que essas divisões só existem por disputas internas entre os fundadores de Hogwarts, coisas que aconteceram há séculos atrás, mas é impossível definir uma pessoa por critérios de semelhança, como o Chapéu Seletor vem fazendo há anos, e essa divisão deixou marcas e trouxe destruição ao mundo bruxo.

Ao observar isoladamente os membros de cada casa, percebo que alguns se uniriam de qualquer forma, já que é natural ao ser humano manter contato com seus “iguais”, pessoas com opiniões e gostos parecidos com os seus; traçamos relações mais facilmente com esses “semelhantes”. Não posso duvidar, por um momento sequer, que a amizade do trio, por exemplo, sempre foi algo predestinado, como normalmente acontece com nossos grandes amigos: simplesmente ‘nos encontramos’. Harry e Rony passam aquela sensação de leveza característica dos encontros entre amigos: as conversas bobas, o apoio incondicional, mostrando também as brigas e diferenças, que são naturais em quaisquer relações. Hermione trás o equilíbrio com sua percepção mais apurada e seu raciocínio lógico, aprofundando a amizade do trio nas horas mais difíceis. Juntos, formam um grupo arguto, leal e corajoso, grupo que Gryffindor trataria muito bem, sem dúvida.

Quando penso nos Marotos, o encaixe deixa de ser tão perfeito. O grupo é brincalhão (até mesmo cruel, eu diria), nem um pouco preocupado e muito aventureiro. Ao olhá-los, percebo um membro perdido por ali: Pedro Pettigrew. Sirius e James são o encaixe natural, com certeza seriam amigos em qualquer situação. Lupin está mais próximo de pessoas como Lílian, discretas e bondosas como ele próprio. Rabicho, entretanto, não estaria próximo a ninguém em época alguma, nenhum membro da Grifinória (seguindo os critérios) seria naturalmente seu amigo. Ele não tem a coragem, nobreza, o sangue –frio ou qualquer outra qualidade dos membros de Grifinória, o que me leva a questionar as escolhas do Chapéu Seletor.

Muitos dizem que Rabicho é um legítimo sonserino, mas não vejo astúcia ou ambição em seus atos. Penso que a covardia o fez se unir sempre aos mais fortes, independente dos rumos que essas alianças pudessem tomar. É claro que Rabicho não foi ambicioso ao se unir a Voldemort, se fosse um homem ambicioso não viveria anos como um rato, com a prisão de Sirius, o natural seria sair livremente e tentar lucrar mais uma vez, o que não foi o caso. Sobreviveu tanto tempo não por astúcia, mas por sorte e insignificância.

Ao tentar colocar Rabicho junto aos lufanos não obtive êxito, falta-lhe a lealdade, a paciência, a sinceridade e todas as outras qualificações dos moradores desta casa. Na Corvinal ele também não estaria, já que não o considero inteligente, sábio, e tampouco um homem de “mente alerta”, então, onde estaria Rabicho?

Penso que se não houvesse casas, ele seria uma pessoa sozinha em Hogwarts, tirando notas baixas, tentando se juntar a qualquer grupo, mas sem muito êxito, vivendo isolado e perdido, seus anos pós-Hogwarts dificilmente o colocariam no caminho de Voldemort e da traição aos Potter, já que não haveria motivo para o Lorde se interessar por tal pessoa. Sirius (ou Lupin) seria o fiel do segredo, os Potter nunca teriam sido aniquilados e Harry jamais seria o menino da cicatriz. Ao colocar Rabicho na Grifinória, o Chapéu deve ter pensado que era um lugar onde Pedro aprenderia bons valores, mas isso não aconteceu e muitos pagaram por esse erro.

Outra personagem que vejo diretamente ligada a questão das casas é Severo Snape e imagino o mundo mágico com um Snape não-sonserino. Snape tem as qualidades sonserinas, que não vejo como defeitos, considero astúcia e ambição muito dignas quando usadas com sabedoria, nada em excesso é bom, na verdade. Um homem excessivamente corajoso, torna-se estúpido e leviano, colocando muitas vidas em risco numa batalha, por exemplo. A astúcia em justa-medida talvez ajudasse tal homem a refletir sobre seus atos neste momento. Junto às qualidades de um sonserino, Snape revela a coragem e o sangue-frio dignos de um membro da Grifinória, a lealdade Lufana, inteligência dos membros de Corvinal, logo, Snape poderia pertencer a qualquer casa e, possivelmente seria uma pessoa normal, pois as casas ajudariam a minimizar seu ego.

Longe da Sonserina de sua época, teríamos um Snape sem motivos para se unir aos Comensais, visto que nunca odiou os nascidos-trouxas, os Comensais não teriam interesse nele, já que não era um puro-sangue e legítimo sonserino. Snape seria sempre um rapaz problemático, considerando sua relação familiar, escolheria viver em Hogwarts para sempre, se pudesse, e teria grande interesse pelas Artes das Trevas (que tem mais relação com sua inteligência e curiosidade do que com crueldade, ao meu ver). Lílian seria, possivelmente, sua única amiga e acredito que sua relação com os Marotos não mudaria, no entanto, ele nunca perderia Lílian, pois não teria de escolher entre ela e os amigos Comensais e mesmo que a mulher se casasse com James, eles poderiam continuar amigos e Snape se tornaria apenas uma pessoa solitária e amargurada pelo amor não correspondido, mas sem culpa alguma em relação aos Potter, pois nunca colocaria Voldemort atrás de Lílian. Esse Snape em qualquer casa, ou sem casa alguma, poderia até mesmo se apaixonar, ser correspondido e superar seus traumas.

Sempre que penso nesses dois personagens, vejo como tudo seria diferente se não houvesse casas em Hogwarts. Sem elas, não teríamos os grupos se unindo tão facilmente, ideias sobre a superioridade dos puros-sangues existiriam, mas nunca teriam uma bandeira tão forte e espaço para procriar, como sempre foi na Sonserina. Pessoas como Neville e Luna não seriam humilhadas por serem diferentes, apenas se juntariam e formariam seus grupos “nerds”, sem a necessidade de honrar a critérios estabelecidos há mil anos.

Voldemort teria um trabalho muito maior para encontrar seguidores, pois eles não estariam nas masmorras, só aguardando um líder. Os Malfoy teriam seus ideais distorcidos, mas não encontrariam tanto espaço para pensar em formas de dominação da “ralé” e quem sabe, com o tempo, até mudassem um pouco tais pensamentos.

Dividir pessoas por uma de suas inúmeras qualidades é um absurdo e pode causar danos irreparáveis às sociedades, isso é algo que Harry Potter deixou bem claro. Somos seres complexos e não podem nos avaliar de forma tão unidimensional.

Por mais que, como potterfã, seja acostumada ao sistema de Casas e ache-as divertidas, sempre pensarei muito nas palavras de Dumbledore em Harry Potter e as Relíquias da Morte: “Sabe, às vezes penso que fazemos a Seleção cedo demais...”, para mim, as seleções, na verdade, nunca deveriam ter sequer começado.

17 comentários:

  1. Caramba, Paty, antes de dizer alguma coisa, Parabéns, ficou muito bom!

    E peço desculpa, mas seu primeiro comentário nem será tão contraditório.

    Concordo muito com o que vc disse.

    A selecção, seja do que for, causa mais estragos do que coisas boas, e esses estragos são feitos exactamente porque as pessoas não podem ser "separadas" apenas por umas poucas características.

    Quanto às escolhas do Chapéu Selector, algo que sempre me deixou confusa foi realmente a escolha de Peter. Mas penso que nem sempre o Chapéu faça as melhores escolhas, e nem é perfeito e infalível. E concordo quando vc diz que o Chapéu talvez pensasse que Peter iria aprender bons valores.

    Outra coisa que eu acho é que a Selecção de Hogwarts é demasiado Clichê, e não dá espaço para pessoas "diferentes".

    Mas é parte de Hogwarts, e sem ela não teríamos a nossa história.

    E poderia ficar aqui escrevendo e escrevendo mas acabaria por chegar à mesma conclusão que vc chegou x)

    Parabéns mais uma vez! ;)

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  2. Patylda, ótimo texto xD
    Realmente, as seleções causaram grandes problemas. Se for para acusarmos alguém, deveremos acusar os fundadores. Ravenclaw, Slytherin e Gryffindor eram preconceituosos, cada um do seu jeito, e por quererem separar os alunos por características que presavam, acabaram causando muitos conflitos. Apenas Hufflepuff tinha a mente livre de conceitos idiotas para aceitar todos.
    Apenas discordo da parte de que Voldemort teria um trabalho maior para encontrar seguidores. Os maus, os purossangues (já falei que odeio a reforma ortográfica?), iam acabar formando grupinhos e Voldemort os alcançaria de alguma forma. Assim como no mundo trouxa os valentões são visíveis, no mundo mágico os bruxos das trevas também seriam.

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  3. Sim, você tem razão em alguns pontos, mas você esqueceu de coisas importantes; o Chapéu Seletor já ficou em dúvida sobre em que casa colocar alguém muitas vezes e é muito provável que o Rabicho, como o próprio Harry, tenha pedido para ir parar na Grifinória.
    "São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades." - Alvo Dumbledore
    E eu não acho que a divisão por casas tenha realmente "causado" todos os problemas do mundo bruxo. Sobre o Rabicho você provavelmente acertou, mas o ser humano gosta de se classificar, encontrar de si mesmo em outras pessoas, o preconceito contra sangues-ruins não nasceu em Hogwarts porque já existia muito antes de Hogwarts ser fundada e isso é transmitido de geração em geração.

    Me senti uma nerd agora, só faltava discutir Senhor dos Anéis, HAHA!

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  4. Belo texto!

    Achei a análise muito bem feita e a exemplificação cai como luva, com esses dois personagens tão problemáticos e tão bem construídos.

    Acho Hogwarts perfeita como é, tradicionalíssima e respeitando a instituição como foi originada. Coisa de britânico.

    Quanto ao Pedro, não o vejo em outra casa senão a Grifinória. Acho que a perspectiva do Harry sobre a história acaba induzindo o leitor a julgar as coisas precipitadamente, fugindo aos princípios puros e isolados que prezavam os fundadores. Voldemort é o demônio que é, além de arqui-inimigo do protagonista, então tem-se que todo aluno verde-argênteo assim é.

    Nas palavras da Paty, Pedro "não tem a coragem, nobreza, o sangue–frio ou qualquer outra qualidade dos membros de Grifinória". Poxa, cortar a própria mão fora a faca, explodir uma rua com várias pessoas e ficar meses e meses cuidando paternalmente de um monstro horrível e debilitado num corpo "ofidiforme" (neologismo meu?) não é ter sangue-frio?

    Achei seus atos corajosos. Acho até suicídio um ato corajoso. Ele fez coisas horríveis e perigosíssimas pra se safar, não desistiu no meio do caminho... estava disposto a passar pelo que for pra achar o lado mais seguro. Se tivesse sobrevivido, morreria implorando anistia. O caso é que ele faz o que faz por si. Penso que se as pessoas conseguirem se desvencilhar do maniqueísmo que advém da perpectiva da narrativa, é concebível um Pedro grifinório. Justo e leal ele definitivamente não é, jamais seria da Lufa-lufa. Sonserina quer ambiciosos, não dependentes. E aqui dá pra divagar horas sobre Crabbe e Goyle no contexto das casas, também... E acho que não há nada na série que exclua o Pedro da Corvinal. É a falta de dados que faz supor que ele não é digno da casa.

    Acho legal lembrar o caso de Hermione, também. Há quem não entenda como ela não é colega da Cho. De fato, ela diverge bastante até das demais meninas da grifinória.

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    1. Na verdade, sugere-se algumas vezes que o intelecto não era o forte do Pedro, por exemplo: quando o Harry escuta a Mcgonagall, o Fudge e o Hagrid contando a Madame Rosmerta sobre a morte dos Potter e como o Sirius os havia traído, a Mcgonagall diz que o Pedro não era tão inteligente quanto os demais Marotos. E ainda, quando o Sirius e o Lupin estão contando toda verdade ao Harry, eles afirmam que o Pedro teve extrema dificuldade para se tornar um animago, e que precisou, e muito, da ajuda dos demais. Concordo com você que ele tenha sangue-frio, e olhando por um prisma diferente, até certa coragem, mas isso o Cedrico tb tinha, e no entando, foi para Lufa-Lufa (obviamente por outras qualidades que tb possuia), por tanto, não acho q só sangue-frio ou só coragem sejam suficientes para ser um legítimo membro da Grifinóri. Pedro deveria possuir algo mais que o qualificou como tal, ou então, ele simplesmente se mostrou, ao chapéu seletor, desejoso pela Grifinória.

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  5. Concordo que a seleção das Casas é falha. Na verdade diria que é até preconceituosa, um mecanismo da sociedade bruxa para juntar os alunos que tem as mesmas características [ou algumas características parecidas] e fazer com que tenham os mesmos pensamentos. Penso que isso atrapalha e muito o desenvolvimento intelectual dos alunos. O intercâmbio cultural é uma das coisas mais importantes no mundo acadêmico, e isso é claramente "podado" em Hogwarts, peguemos o exemplo da Sonserina, que é uma casa excluída das demais e os alunos desta são odiados e odeiam os outros sem ter um motivo, que não seja o passado de seus fundadores.

    Por exemplo, Luna e Neville se dariam muito melhor e se sentiriam mais "protegidos" se estivessem na mesma Casa. Os alunos deveriam formar grupos por conta própria, não pelo julgamento que alguém faz de suas cabeças quando eles têm apenas 11 anos. O que aconteceria de qualquer maneira, levando em consideração a necessidade do ser humano de se relacionar e ser aceito em um grupo. Isso poderia levar à formação de grupos que poderiam crescer e se tornar Casas, mas pelo menos seria mais espontâneo.

    Com relação à Rabicho, concordo plenamente, ele provavelmente nunca se encaixaria em nenhum grupo, coitado. huauhahuahua

    Já se tratando de Snape, e também abordando uma questão mais geral, imagino que o chapéu escolha os alunos por sua característica mais marcante ou que esteja mais presente em seu caráter. Snape tinha mais características sonserinas, por isso foi escolhido para tal Casa [concordo que ele tinha todas as características para ser de qualquer uma das outras]. E imagino que mesmo que Snape estivesse em outra das quatro Casas, suas características sonserinas acabariam aflorando mais que as outras.

    Na verdade, imagino que qualquer pessoa possa ter todas ou nenhuma das características que te colocam em uma Casa, o que fortalece sua idéia de que a divisão é sem fundamento. Imagino que Jo criou o Chapéu Seletor com o propósito de identificar qual característica é mais forte, e assim "classificar" a pessoa. O que considero errado, de qualquer maneira.

    Outro ponto importante é o fato de que o ser humano constrói ou muda seu caráter com o passar dos anos e com as experiências adquiridas, o que nos leva ao problema dos alunos serem escolhidos muito cedo, sem nem ao menos terem um caráter formado ou até mesmo opiniões próprias.

    Enfim, se não tivéssemos essa divisão, provavelmente nossa história não existiria da maneira que é. Então, agradeçamos a Jo e sua incrível capacidade de gerar discussões \o/ hauhuahuauhahua

    Acho que viajei demais nesse comentário, mas é isso [perdoem qualquer erro de digitação ou repetição de palavras]!

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  6. Análise fantástica! Concordo que dividir os alunos por casas alimenta preconceitos e divisões que talvez sem elas não existiriam. Hogwarts é tão tradicional que não consegue se desfazer desse elo com seu passado (diretamente relacionado à sua fundação)e se algum diretor tentasse, possivelmente fracassaria, pois o mundo bruxo, tão conservador quanto à escola, não iria aceitar essa mudança, por mais benéfica que ela fosse.

    Quanto aos rumos que cada personagem tomaria, concordo que eles seria diferentes sem a presença das casas, mesmo assim estamos entrando no reino das suposições, afinal nas escolas ditas normais, também há divisões, que se não são arbitradas por terceiros, são formuladas pelos próprios integrantes de cada grupo. Outros grupos seriam formados, a partir de outros interesses, nada garante que Snape, que teve um passado doloroso, não se deixasse levar pelas teorias dos comensais, muitos dos quais sabia ser sedutores como seu mestre. Voldemort sabia reconhecer os pontos fracos de cada um, o que tornava fácil uma pessoa frágil (como em alguns aspectos o Snape era) se deixar seduzir. A inexistência das casas apesar de em tese poder acabar com as tolas rivalidades, não impediriam que algumas pessoas, como Pedro ou Snape, se envolvesse com os grupos errados. Pedro poderia ter conhecido os Marotos, mesmo sem as casas e achado conveniente sua proteção.

    A divisão torna-se injusta ao tentar classificar uma pessoa, esquecendo-se da complexidade do ser humano, não é apenas uma característica isolada que nos define. Talvez, o chapéu ter valorizado o pedido de Harry naquela ocasião reflita bem isso (apesar de que Harry jamais teria feito tal súplica se não tivesse formado um pré-conceito sobre a Sonserina).

    Sem as casas, certos preconceitos se extinguiriam, mas certamente não iriam impedir o estabelecimento e fortalecimento de outros já existentes na comunidade bruxa. Ora, temos a nossa sociedade para mostrar isso. Não temos aqui castas ou casas, mas grupos são formados a todo momento e infelizmente alimentando o ódio que impregna a sociedade desde a sua constituição.


    Parabéns pelo texto e que venham mais reflexões brilhantes como essa!

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  7. Parabéns pela coluna!
    Quanto ao Rabicho, concordo como Dan. Em muitos momentos da saga, já listados aqu nos comentários, ele demonstrou coragem.

    O sistema de seleção em Hogwarts é falho como qualquer sistema de seleção, entretanto, também tem seus benefícios. Ao reunir os estudantes com características julgadas semelhantes por algúem, no caso, o chapéu seletor, ajuda-se a desenvolver as aptidões entre iguais. Isso torna o processo de aprendizagem mais objetivo e bem-sucedido. Na Alemanha, por exemplo, há três tipos de escola, na qual os alunos são separados por notas - é possível avançar de 'nível', mas, dessa forma, diferentes ritmos são respeitados e o ensino é canalizado, construído de acordo com certas qualidades. Em Hogwarts, os alunos de casas diferentes tem aulas juntos, mas, pelo menos, estão juntos para estudar e conviver nas salas comunais.

    Como você mesmo disse, o ser humano não é plano, é esférico. Por essa razão, ser encaixado em uma das casas não é algo completamente limintante. Amizades entre alunos de diferentes casas são inúmeras, assim como inimizades 'entre-casas'. Não foi o chapéu seletor que transformou os sonserinos em futuros comensais ou defensores do ideal puro-sangue, ainda que os tenha reunido. Na minha opinião, eles teriam se reunido sozinho. Como você disse, o homem procura seus semelhantes; somos animais sociais. No nossa vida, cá no mundo real, sabemos que esse tipo de reunião acontece.

    O que eu acho ruim quanto a seleção é o fato de dar rótulos, não de separar. "Sou um grifinório", "sou um sonserino". Nhaa, que big deal hein. Mas, de novo, isso aconteceria de qualquer maneira. Vide "Os Marotos" e "Clube do Slugue."

    Mais uma vez, parabéns pela coluna!

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  8. Gostei das analogias, Vinícius

    Do ponto de vista do ensino, vejamos a pedagogia do respeitabilíssimo sistema de educação tão eficiente que vigora no nosso país: inclusão. Aglomera-se crianças de performance (e muitas vezes competência) totalmente divergente numa mesma sala, onde das duas, uma: ou o aluno avançado e com mais facilidade fica atrasado e não evolui no seu ritmo ou o aluno com dificuldades, distúrbios de atenção, etc fica pra trás e passa (quando consegue) sem aprender.

    A seleção, penso eu, nada mais é do que veículo de formação de um time que luta pela vitória todos os anos (Taça das Casas), sendo o jogo a vida acadêmica e o comportamento (já que falamos em internato). Isso não sufoca significativamente a amizade e convivência com gente de outras casas.

    Harry interagia o suficiente com as outras casas a ponto de fundar uma Armada de resistência em Ordem da Fênix, e isso em tempos de acirrada opressão. A mim, Cálice de Fogo e Ordem da Fênix explicitaram muito bem que as divisões das casas não limita quase nada. No Torneio Tribruxo, Hogwarts tinha seus campeões lufano e grifinório, e nem por isso as outras casas torciam contra. Quanto à Sonserina, é a casa dos que querem crescer, e o único jeito de ser alguém na vida nesse mundo real que a gente vive, é sendo odiado. É natural que seja a casa mais vítima de preconceitos (o protagnista do raio na testa taí pra comprovar). O que Harry queria na hora da Seleção faz toda a diferença: "Sonserina não". Ele não implorou pela grifinória, ele clamou por qualquer coisa que não fosse a do assassino de seus pais. Compreensível, claro, mas nem por isso deixa de ser preconceituoso.

    O estereótipo pode até ser problema, mas o objetivo está em aproximar pessoas que tendem a ter o mesmo comportamento. Não funciona, muitas vezes. A história da incorporação de Hermione ao grupo de Harry em Pedra Filosofal ilustra muito bem. Rony e Hermione são bastante opostos, e deu no que deu.

    Ah, e me desculpem se eu me empolgo, é que o tema incita x_x

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  9. Eu gosto das divisões das casas, na verdade, não vejo Hogwarts sem elas.
    Como a Paty mesmo disse, é natural o ser humano manter contato com seus iguais, logo eles formariam “panelinhas” eles mesmos, uma espécie de casa.

    É claro, as casas existem por uma rivalidade entre os fundadores e, é ainda mais claro que, as pessoas são muito complexas para serem “rotuladas”. Porém sempre teremos uma característica que destaca-se entre as outras.
    Podem dizer que em determinadas situações é uma característica diferente que destacar-se-á, mas você continua tendo uma característica mais forte.
    Talvez as casas sejam mal compreendidas às vezes. Quero dizer, nós mesmos dizemos que se a pessoa é da Grifinória ela é somente corajosa e sangue frio, mas não, essas talvez sejam as mais marcantes qualidades, porém não é como se a pessoa não pudesse ser ambiciosa, por exemplo.

    Como alguém citou, todo sistema falha, logo o chapéu pode falhar também. Acho difícil falhar, pois ele entra na sua mente e quem melhor que sua mente pra dizer quem você é? Suas escolhas, talvez. Q

    Não acho que as casas trouxeram destruição ao mundo bruxo, pois os preconceitos já existiam.
    Concordo muito com o Vinicius, principalmente quando ele diz que os futuros comensais se reuniriam de qualquer maneira, por exemplo. Ou seja, entra novamente na questão da panelinha.
    O que eu acho ruim quanto a seleção é o fato de dar rótulos, não de separar. [2]

    Vejo muito sangue-frio no Peter, ousadia e coragem também. Quer dizer, não é fácil trair seus amigos e ser um espião. Não é tão simples viver tantos anos sob a forma de rato.
    As pessoas dizem que o Rabicho é sonserino só por ele ser “mau”, mas de sonserino ele não possui nada.

    Não vejo outro lugar a Snape se não a Sonserina ou Grifinória.
    Snape não é tão leal assim, pois ele traiu Voldemort, de certa forma, e ele não é alguém tolerante ou paciente para ser Lufano. E também não o vejo na Corvinal, pois ele não é muito mente aberta. E continuo achando que ele é muito mais Sonserino, pois é astuto e ardiloso.
    E Severus não seria uma flor que se cheire só por não ser da Sonserina. Não foi uma casa que o levou a tudo isso e a falta de uma casa também não o impediria.
    E o fato de ter “perdido” a Lily, foi porque ele a ofendeu e não por causa dos seus amigos comensais, pois a Lily também não escolheu entre ele e o James.

    Sobre pessoas como Neville e a Luna a situação continuaria a mesma sem as casas. Veja um exemplo na nossa sociedade, pessoas diferentes são sempre julgadas ou humilhadas. [off: esqueci a palavra exata]

    As pessoas irão dividir as outras de qualquer maneira. Se não por classe social, por força, inteligência, beleza ou qualquer outro estereótipo. A seleção é algo humano e iria ocorrer sem ou com as casas. Acho que sem as casas elas seriam ainda piores.

    Anyway, Parabéns, Paty! *-*
    Um excelente texto, realmente muito bom.
    Os comentários também estão humilhantes, até fiquei meio receosa em postar o meu.
    É ótimo discutir HP com pessoas que entendem sobre o assunto.

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  10. Antes de mais nada, quero dizer que fiquei muito feliz com a criação desse blog. Vocês são duas das pessoas que conheço que melhor podem falar da série, que gostam de analisar cada detalhe e que conseguem argumentar como ninguém. Então nada mais justo que criar um blog para poder compartilhar tudo conosco.

    Agora, quanto à sua análise, você desenvolveu muito bem o texto, porém eu discordo em alguns pontos. Também acredito, assim como o Dumbledore, que a seleção é feita muito cedo, isso até mesmo me lembra o vestibular aqui no Brasil, muitas vezes feito por uma garotada de 16 anos. Decidir o que você quer fazer pelo resto da vida aos 16 anos é uma responsabilidade absurda, principalmente porque nessa idade poucos sabem quem são, o que querem e aonde querem chegar. Não tem a sua personalidade totalmente formada, assim como muitos não possuem maturidade para tomar decisões tão importantes. Da mesma forma, ou talvez ainda pior, a seleção em Hogwarts é feita aos 11 anos. Quantos de nós éramos uns pestinhas aos 11 anos e fazíamos coisas erradas, que nunca faríamos hoje em dia? Quantos de nós aqui é exatamente igual ao que era aos 11 anos, possui os mesmos pensamentos e visão de mundo? São essas características que definem aonde o Chapéu vai te colocar; seus pensamentos sobre o mundo e como ele deve girar, suas atitudes, etc.

    Tomando o exemplo do Rabicho, embora à primeira vista ele não possua nenhuma das qualidades da Grifinória, a mesma coisa acontece com o Neville nos primeiros livros. Contudo, o Neville possui um grande diferencial: seus pais foram torturados até a loucura pelos Comensais da Morte. Ele tem no que se apoiar. Ele tem porque odiar os Comensais da Morte. E exatamente por isso, em OdF, ele decide ter aulas com a AD. Essa sua decisão o torna completamente diferente do Rabicho. Embora não saibamos o que aconteceu com os pais de Pedro, eu duvido que eles tenham sido mortos pelos Comensais. E o fato dele sempre ficar a sombra de pessoas mais poderosas e inteligentes do que ele, talvez o tenha impedido de alcançar o que o Neville alcançou. O Neville teve a atitude de ir atrás, o Rabicho ficou acomodado por fazer parte dos Marotos. Talvez o Chapéu Seletor o tenha colocado na Grifinória porque tenha visto que ele tinha potencial para se tornar um grande bruxo naquela casa, porém o Rabicho não se deu essa chance.

    Quanto ao Snape, também não acho que se não existisse a seleção ele não se tornaria um Comensal. Seu pai trouxa humilhava e intimadava a sua mãe bruxa, e provavelmente por isso ele passou a não gostar dos trouxas. Antes mesmo dele entrar em Hogwarts, Snape já tinha mostrado à Lílian que não gostava de trouxas. Até tentou abrandar um pouco porque ele se referia à Petúnia, irmã da Lily, mas ainda assim se achava superior por ser um bruxo. Ao entrar em Hogwarts, aos poucos ele iria conhecendo as pessoas, e talvez essa sua visão do mundo bruxo-trouxa o impedisse de ter amizade com algumas pessoas que, com a seleção, seriam da Grifinória. Claro que em toda amizade existe diferença, mas o que une duas ou mais pessoas é exatamente a semelhança. Os ideais ou pensamentos em comum. A visão de mundo ou gostos em comum. E partindo desse ponto, acredito que mesmo não havendo seleção, ele iria sim se aproximar das pessoas que compartilhariam da mesma visão que ele (ou seja, aquelas pessoas que provavelmente iriam para a Sonserina).

    [continua]

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  11. A Seleção das casas promove sim uma separação, mas também promove uma união maior entre aqueles da mesma casa. Contudo, não acredito que a Seleção defina quem você vai ser posteriormente baseado nas suas amizades; elas aconteceriam de qualquer forma. Acredito que o Chapéu o seleciona tendo em vista as suas qualidades naquela época da sua vida e, partindo delas, em qual casa você chegará mais alto. O que eu acho é que aos 11 anos quase ninguém tem a personalidade formada ao ponto de poder ser definido como "para sempre" grifinório, sonserino ou whatever. E, concordo com você nesse ponto, embora aos 11 anos você se identifique com uma coisa que não necessariamente vai perdurar por toda a vida, ao ser selecionado para uma casa cujas qualidades são X e Y, você se sente na obrigação de fazer jus à sua seleção.

    A única exceção a isso, ao meu ver, são aquelas pessoas que foram atingidas antes de ir para Hogwarts. Pessoas cujos pais ou familiares foram torturados ou mortos por comensais, ou cuja mãe foi humilhada por um trouxa. Esses tipos de coisas deixam marcas quase sempre irreversíveis na vida, mente e personalidade das pessoas.

    Bom, não cheguei a lugar nenhum. huahuahua Sorry pelos pensamentos soltos, agora entendo os seus comentários gigantescos nas news do Ish (y)

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  12. Concordo com você sobre a divisão de casas, acho que ela estimula sim a segregação e a criação de estereótipos simplistas, condenando alguns indivíduos. Talvez, no futuro, fosse razoável sugerir a extinção das divisões entre casas. No entanto, acho que não seria aceito pelo mundo mágico, dado que tais identidades fazem parte da vida das pessoas há gerações.

    Os britânicos, de maneira geral, tendem a ser mais apegados a critérios de classe e distinção; pense só, eles ainda tem uma família real e uma nobreza aristocrática. Eu tendo a ver a Sonserina assim, como um lugar para o “velho dinheiro” manter suas insígnias de superioridade, o quê no mundo trouxa seriam coisas como títulos de nobreza e brasões familiares. O Reino Unido ainda é o mundo das condessas, dos lordes e do status familiar, pelo menos em partes. Acho que Hogwarts traz esse ranço, assim como as famosas escolas privadas inglesas em que estudam os membros dessa elite aristocrática, como a Eaton, onde estudaram os príncipes Charles, William e Harry [até hoje acho curioso que J.K. Rowling tenha escolhido o nome do príncipe para seu protagonista]. Lá nessas escolas, ainda há disputa por status, a importância de parecer pertencer a uma família nobre e respeitada e esse comportamento polido e um tanto arrogante. Acho que Hogwarts é uma legítima boarding-school britânica. O curioso é que Hogwarts aceita pessoas de origens não tão nobres, seja de famílias bruxas ou trouxas. Seria como se fossem bolsistas, isto é, podem ter acesso à educação, mas não são considerados membros legítimos daquele grupo.

    Nesse aspecto, entendo bastante o Snape. Desde o início, ele desesperadamente quer ser um sonserino. Ele sabe dessa hierarquia social, afinal sua mãe é uma Prince, e ele quer fazer parte dela. Aprendemos com o Harry que a escolha é muito importante no momento da decisão do Chapéu Seletor. Como você bem disse, Harry Potter é sobre escolhas. Snape escolheu, por sua história familiar, jogar o jogo sonserino, lutar por status e aceitação. Ele queria ser um dos nobres. [Acho também curioso que o Snape, um mestiço, tenha tentado disfarçar sua origem e ter se juntado à eugenia anti-nascidos trouxas. Muita gente diz que Hitler era meio judeu e que muitos nazitas também tinham essa origem. Enfim, a história do mundo bruxo me lembra demais o III Reich].

    A mesma coisa com Peter. Acredito que ele tenha escolhido ser um grifinório. Provavelmente, ele admirava a coragem e os outros atributos associados à casa dos leões. E foram as escolhas que fizeram toda a diferença......

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  13. Uau! Um artigo incrível! Uau! Idéias bem elaboradas e eu concordo absolutamente com tudo que você diz. Mas, se não houvessem divisão das casas, que história J.K contaria? Achei incríveis as sugestões, do Snape e do Rabicho e o quão oposto eles são, já que Snape tem todas as qualidades das casas e Rabicho, nenhuma. Mas, como Harry, acho que cada um, também, escolhe a casa. E Snape já queria ir para a Sonserina quando entrou em Hogwarts, então, mesmo que depois de um tempo ele mudasse suas idéias, no princípio ele procuraria se unir às pessoas de mesma ideologia. Enfim, incrível, incrível. Vou começar a vir sempre aqui :D

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  14. Também sempre comparo as duas guerras bruxas com o III Reich. E, uau, isso é tão interessante!

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  15. Dividir pessoas por uma de suas inúmeras qualidades é um absurdo e pode causar danos irreparáveis às sociedades, isso é algo que Harry Potter deixou bem claro. Somos seres complexos e não podem nos avaliar de forma tão unidimensional. [2]

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  16. Mas tipo, no caso de Harry , ele seria um ótimo candidato a sonserina, mas foi para a grifinória, no livro diz, que o chapéu seletor também considera suas escolhas . "Não são nossas qualidades e sim nossas escolhas"

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