quarta-feira, 23 de junho de 2010

As páginas enfeitiçadas que encontrei em Harry Potter

Não sei se vocês conhecem o livro A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, autor espanhol e finalista de prêmios literários na Espanha. Ganhei este livro de presente de aniversário no ano passado e, mesmo assim, ainda não o li por completo. Isto porque eu tinha outros livros na fila de leitura e também pela faculdade, que, definitivamente, reduz bastante meu tempo livre.

Em linhas gerais, o livro conta a história de um garoto, Daniel Sempere, cujo pai é dono de um sebo, loja de livros usados. O pai leva Daniel até um lugar pouco conhecido, O Cemitério dos Livros Esquecidos, onde livros antigos, raros e pouco conhecidos estão guardados, protegidos. Daniel é convidado a escolher um livro, qualquer um, dentre todos os que estão nas muitas prateleiras do lugar e, por coincidência ou destino, ele escolhe "A Sombra do Vento". O livro fascina-o e Daniel sente-se motivado a conhecer a obra completa do autor. A partir daí, o rumo de sua vida será mudado e o garoto será arrastado para uma teia de segredos e intrigas envolvendo Julián Carax, desconhecido autor do livro.

Enfim, esta semana eu comecei a lê-lo com o intuito de acabá-lo no começo das férias. E, mesmo com apenas 29 páginas lidas, deparei-me com três trechos que expressam tão bem aquilo que sinto pela saga Potter. Como a história é sobre um livro que fascinou um garoto, vejo que estas partes caíram como uma luva para minha relação com Harry Potter. Os três trechos estão transcritos logo abaixo; se, no prosseguir da leitura de A Sombra do Vento, eu me identificar com outros pontos, compartilharei com vocês.

Daniel Sempere: "Penetrei num mundo de imagens e emoções que jamais havia conhecido. Personagens que pareciam tão reais como o ar que respiramos arrastaram-me para um túnel de aventura e mistério do qual eu não podia escapar. Página por página, deixei-me levar pelo sortilégio da história e seu mundo, até que o hálito do amanhecer acariciou a minha janela, e meus olhos cansados deslizaram pela última página. O sono e a fadiga queriam me derrubar, mas eu resistia a entregar-me. Não queria perder o encantamento da história nem dizer ainda adeus aos seus personagens".

Clara Barceló (a personagem é cega, mas alguém lia para ela): "Eu não conhecia o prazer de ler, de explorar portas que se abrem na nossa alma, de abandonar-se à imaginação, à beleza e ao mistério da ficção e da linguagem. Tudo isso para mim começou com aquele livro. Este é um mundo de sombras, Daniel, e a magia é um bem escasso. Aquele livro me ensinou que ler poderia me fazer viver mais e mais intensamente, que poderia devolver-me a visão que eu tinha perdido. Só por isso, aquele livro mudou a minha vida".

Daniel Sempere: "Certa ocasião, ouvi um cliente habitual da livraria do meu pai comentar que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho ao seu coração. As primeiras imagens, o eco dessas palavras que pensamos ter deixado para trás, nos acompanham por toda a vida e esculpem um palácio em nossa memória ao qual, mais cedo ou mais tarde, - não importa os livros que leiamos, os mundos que descubramos, o quanto aprendamos ou nos esqueçamos - iremos retornar. Para mim, essas páginas enfeitiçadas serão sempre as que encontrei entre os corredores do Cemitério dos Livros Esquecidos"; no meu caso, as que encontrei em Harry Potter.

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terça-feira, 22 de junho de 2010

Seção Fanarts: o toque singular do artista

Com esta postagem, damos início à nossa Seção de Fanarts. Convidamos a Nathália Destro para fazer algumas ilustrações para o Da Penseira e ela aceitou de bom grado! Muito obrigado, Nah! Devo revelar que ela está trabalhando em uma nova ilustração para o banner do blog... Aguardem!

Se há algo que me encanta nas fanarts, em geral, é a capacidade que o artista tem de colocar o seu toque pessoal no desenho; de, ao mesmo tempo que representa algo que todos os fãs já imaginaram, fazer com que sua ilustração seja diferente das demais. A interpretação do artista é algo a ser observado, pois é singular.

Se você também tem talento para desenhar, envie um e-mail para o dapenseira@gmail.com com uma ou duas fanarts da série Harry Potter de sua autoria e seja um colaborador do blog!

Na extensão da notícia, confira duas ilustrações: uma da irreverente Luna Lovegood e outra dos amáveis Rony e Hermione. Clique nas imagens para vê-las em tamanho maior.

A imagem do topo, Artist in His Studio, é um desenho de Philip Guston (1913-1980).

Di-lua, com seus habituais adornos exóticos.
Provavelmente está tentando espantar alguns zonzóbulos.
Material: grafitte. Colorido digitalmente
Personagens: Luna Lovegood


Rony e Hermione ainda crianças,
em algum momento inexistente no Salão Comunal da Grifinória.
Material: grafitte. Colorido digitalmente
Personagens: Rony e Hermione

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Círculo Temporal Potteriano e a Predestinação Ilusória

Ah, o tempo! Como é fascinante e encantador! Durante certa madrugada insone, estava eu no twitter, quando o destino (ou uma escolha casual) fez minha caríssima Carol postar uma dúvida sobre o tempo e madrugada afora fomos nós discutindo os mistérios temporais... E cá estou eu para tentar desenvolver uma análise do tempo potteriano e de algumas de suas implicações. Reservem algum tempo para ler e compartilhar seus pensamentos. Apreciem.

A propósito, adicionei um parágrafo ao texto para esclarecer alguns pontos pendentes.

O que é tempo? Se há uma resposta, ela é inerente à racionalidade de que somente os seres humanos são dotados, uma vez que se relaciona com a percepção humana das sucessivas mudanças do espaço. Observamos o sol, as fases da lua, os períodos de crescimento das plantas e de ocorrência de diversos fenômenos naturais, determinamos estações do ano, criamos calendários e relógios... Tudo isso para tentar entender, medir, controlar o tempo e adequá-lo às nossas necessidades. E não é simples chegar a uma possível definição. Em certa versão do Aurélio, define-se o tempo como “um meio contínuo e indefinido no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos irreversíveis” – note-se que mesmo a definição do dicionário julga-o indefinido. Certamente que se trata de um dicionário trouxa... A bruxidade desenvolveu um peculiar instrumento que torna o tempo reversível: o vira-tempo. O objeto curioso interfere nesse intrigante e enigmático meio que é o tempo. Talvez não seja impróprio incluí-lo na categoria dos mistérios mais profundos de que trata a primeira das Leis Fundamentais da Magia de Adalberto Waffling, ainda considerando a existência de uma seção no Departamento de Mistérios que se ocupa com a manipulação e o estudo do tempo. Proponho-me, a partir destas considerações sobre o tempo, a analisar a forma como o enxergo, a forma como é tratado em Harry Potter – mais precisamente em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban – e o motivo por que acredito que seja tratado dessa forma. Vejamos.


Imaginemos, inicialmente, o tempo como uma linha reta: estende-se indefinidamente em, a princípio, apenas um sentido. Em seguida, munidos de um vira-tempo, suponhamos uma viagem temporal ao passado, isto é, uma retrocessão – em sentido, logicamente, inverso – a certo ponto. A partir do momento em que qualquer mudança é feita no passado, surge um ramo secundário daquela linha reta inicial – exatamente no ponto-destino – que se desenvolve de acordo com os desdobramentos das interferências que a viagem temporal provocou. Talvez o segmento da linha reta original posterior ao ponto-destino em que se originou o novo ramo continue existindo noutra dimensão, embora já não seja possível retornar a esse segmento. De qualquer forma, esta visão aborda uma noção de linearidade temporal, em que a consequência de uma viagem ao passado seja necessariamente o surgimento de um novo ramo. Esta concepção de funcionamento do tempo não inviabiliza o efeito causado pelas escolhas que podemos fazer, isto é, não inviabiliza o livre-arbítrio pleno e determinante e está de acordo – presumo – com a ideia de destino maleável presente nas obras de J. K. Rowling.

Em Harry Potter, por outro lado, quando Harry e Hermione têm de regressar no tempo para salvar “mais de uma vida inocente”, os eventos já haviam ocorrido e/ou já estavam em curso devido à interferência simultânea dos mesmos. Bicuço já havia sido salvo, embora não o tivessem percebido, e Sirius já estava escapando, embora ainda não soubessem. Essa concomitância de eventos pressupõe a concepção circular e infinita do tempo, isto é, os eventos ocorrem simultaneamente – as “versões” de Harry e Hermione anteriores e posteriores à viagem coexistem e interagem entre si – e teriam necessariamente de repetir-se para todo o sempre, considerando a brilhante resposta da corvinal Luna Lovegood: “um círculo não tem princípio” – nem fim. Essa concepção também alude necessariamente à existência de dimensões múltiplas: se não houvesse tais dimensões, seria impossível que a sequência temporal tivesse continuidade e os viajantes ficariam aprisionados no círculo sem fim; cada nova repetição deve ocorrer em uma dimensão distinta, infinitamente. A maneira como J. K. Rowling desenvolveu a estrutura do tempo dá margem à teoria de que os eventos são determinados previamente, de que há um destino predefinido, de que não existe alvedrio e de que as escolhas sempre convergirão para consequências predeterminadas. Isso seria assaz contraditório, desdiria as sábias palavras de Dumbledore acerca das escolhas e de como revelam quem somos e faria da adivinhação um dos campos mais precisos da magia.

Na realidade, Bicuço nunca fora morto, Harry sempre fora salvo por seu próprio patrono, justamente porque a viagem causa uma distorção na estrutura do tempo, produzindo um círculo e tornando inexistentes os eventos que poderiam ter ocorrido, se a viagem não fosse realizada. Temos a impressão, devido à simultaneidade dos eventos, de que versões de Harry e Hermione provenientes de outra dimensão precisaram ter feito a viagem anteriormente para que, por exemplo, Harry fosse salvo. Isso não acontece, a meu ver. A viagem ocorre em uma mesma dimensão com “versões” de Harry e Hermione que se distinguem pela consciência dos acontecimentos, isto é, as versões anteriores não sabem o que houve, não sabem quem foi o responsável pelos salvamentos; já as versões posteriores (e definitivas para esta dimensão) têm consciência de que foram os responsáveis por tudo. As repetições seguintes da viagem é que devem suceder em outras dimensões. A iniciativa de empreender a viagem no tempo e a distorção estrutural por ela causada provocam a inexistência de quaisquer eventos ocorridos sem a interferência dos viajantes, de modo que não é possível determinar o início das ações e isto é o que torna o tema complexo deveras.

A compreensão linear do tempo é mais coerente em sua teoria, visto que explica com mais propriedade sua possível lógica de funcionamento. Contudo, no desenvolvimento de uma história planejada, é quase impossível administrar a formação de um ramo inteiramente novo, em que os desdobramentos tornar-se-iam absoluta e imprevisivelmente diferentes dos “originais”. Seria incabível conceber a linearidade do tempo sem necessariamente recorrer a explicações complexas e inconvenientes. A escolha da acepção circular torna, a meu ver, a história muito mais verossímil, palpável e até mesmo instigante, disponibilizando um leque interessantíssimo de possibilidades de explicação e de teorias diversas.

Vale ressaltar, portanto, que o tempo em Harry Potter não pressupõe um falso livre-arbítrio, não nega o poder das escolhas nem torna imutáveis os acontecimentos. Como Lílian trocou a vida do filho pela própria, como o menino que sobreviveu preferiu pertencer a Grifinória, como Harry e Rony resolveram ir à procura de Hermione no banheiro feminino, como Flamel concordou em destruir a pedra filosofal e viver a grande aventura seguinte, como O Eleito escolheu voltar à vida e enfrentar Voldemort, somos senhores do nosso próprio destino e não há maldição imperdoável, profecia ou folha de chá mais poderosa que a nossa esplêndida e intrínseca capacidade de escolher e, mais do que isso, de discernir a escolha certa.

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domingo, 20 de junho de 2010

Pottermaníaco ou Potteriano?

Olá! Assim como Luan, também fui convidada pelos amigos Flávio e Paty a postar aqui. Aceitei logo, pois o propósito do blog me atraiu de imediato, e eu não poderia recusar a chance de deixar os frascos com meus pensamentos à disposição de todos que quiserem mergulhar em nossa penseira!

Adianto logo que o texto (não muito extenso) que virá a seguir visa apenas lançar a idéia, assim cabendo ao leitor refletir sobre ele. Abordarei os termos "pottermaníaco" e "potteriano", buscando chegar a uma conclusão sobre o correto para referências a fãs de HP.

Sem mais delongas, boa leitura a todos. Aguardo seus comentários!


Você é um pottermaníaco ou um potteriano? Com certeza, em algum momento na vida, um fã de HP já se autodenominou com ambos os termos, às vezes por distração, às vezes por não saber qual o "correto", às vezes por os julgar sinônimos.

Segundo Houaiss, os significados de mania e maníaco são:

Mania: s.f. Hábito estranho, ridículo / Gosto levado ao extremo / Pscicopatol. Estado de superexcitação do psiquismo, caracterizado por exaltação do temperamento e desencadeamento de impulsos instintivos e afetivos / Fig. Mau costume, esquisitice".

Maníaco adj. Relativo a mania: delírio maníaco / -S.m. Indivíduo possuído de uma uma mania".

Já o sufixo -ano, com sua variante –iano, "tem um significado básico de “proveniência, origem”: doces serranos, autores italianos, monges tibetanos. Com o tempo, passou a indicar também a proveniência de uma idéia, a partir do nome de um autor ou de um movimento intelectual: sonetos camonianos, ideal republicano, igreja anglicana".

Agora, leitor, pense comigo: Harry Potter é uma série que, durante todo esse tempo, vem conquistando e trazendo cada vez mais fãs, que nos ensinou diversos valores, entrete, nos proporciona diversão e momentos de reflexão, nos dá amigos, e mais uma lista quilométrica de benefícios trazidos, que não escreverei aqui por não ser meu foco no momento (além de ser um tremendo clichê, diga-se de passagem). Um fã, ao afirmar que é fã da história de J.K. Rowling, fala com o orgulho e o sentimento dignos de algo que sempre fez parte de você; como se fosse algo que vem com você desde seu nascimento, uma característica sua.

Podemos dizer que "pottermaníaco" é uma denominação pejorativa, pois somente o fato de HP ser uma mania invalida todas as características da saga citadas acima. Sejamos sinceros, nada mais apropriado do que o sufixo -iano para demonstrar isso, uma vez que "potteriano" reflete algo intrínseco à pessoa! Não somos maníacos descontrolados e viciados em algo qualquer e prejudicial (exceto em casos de fanatismo exagerado, o que é outra história; afinal, o que nesse mundo não é prejudicial, se em excesso?!), somos potterianos!

Talvez todos tenhamos sido pottermaníacos, outrora, mas agora, felizmente, grande parte dos pottermaníacos de ontem constitui o fandom potteriano (e tão positivamente influenciado por HP, que esta é a origem do termo) de hoje. Você concorda com a distinção de termos?

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Snape: Santo ou Canalha?”

Olá, leitores e leitoras!

Pensei em escrever na saudação: leitores e leitoras da penseira. Mas não se pode exatamente ler uma penseira; mergulha-se nela, transporta-se para dentro dela. Isso alude, curiosamente, ao efeito da leitura sobre o leitor: faz que adentre novas dimensões, penetre mundos exóticos ou até se embrenhe no próprio ser... É realmente incrível e magnífico! Bem, hoje é minha estreia aqui no Da Penseira, minha vez de compartilhar pensamentos. Fui gentilmente convidado a participar por Flávio e Paty e aceitei instantaneamente, já que achei a ideia primorosa.

Pois bem. A coluna trata de uma das personagens mais dúbias da história da literatura - talvez mais até que Capitu - e é, na realidade, uma análise (não tão parcial como seria de esperar-se) da personalidade misteriosa, surpreendente e intrigante de Severo Snape. Espero realmente que apreciem e comentem a respeito. Boa leitura!

Severo Snape e a fertilidade intrínseca à alma

Antes que se cogite a possibilidade de esta coluna estar relacionada, em teor e caráter, às “obras” de Rita Skeeter, faz-se necessário aclarar que o texto não objetiva depreciar a personagem nem utiliza de métodos moral e eticamente questionáveis no julgamento da sua conduta. O título apenas visa referenciar a obra da dita “jornalista” e, dessa forma, ressaltar salutarmente a polêmica que reside na história da personagem ao longo dos sete volumes potterianos. Ao final, a intenção não é responder ao questionamento que encima este texto, uma vez que não há resposta tão simplória que se amolde à pergunta, mas estimular a reflexão acerca do que será abordado.

É inegável que a estrutura familiar integra grande parte do alicerce sobre o qual se constrói a personalidade de um indivíduo, seja ele bruxo ou trouxa. Os pais são responsáveis por orientar os caminhos dos filhos, quando estes ainda não são capazes de fazê-lo. Quando se tornam “senhores do próprio destino”, estão aptos, supõe-se, a fazer as próprias escolhas, embasadas no que aprenderam durante a infância e a tenra juventude. Sendo assim, um ambiente familiar tempestuoso e desequilibrado contribui para o desenvolvimento de certos desvios de conduta, isto é, a escolha certa – ponderando a faixa que abrange o moralmente aceitável – não se revela muito facilmente, não se torna evidente, lógica ou óbvia. Posto isto, torna-se possível principiar o entendimento da complexa personalidade de Severo Snape.

J. K. Rowling não nos privilegiou com muitas informações a respeito da infância de Snape, no que tange ao relacionamento com os pais. É muito provável, no entanto, que, mais do que condições de vida restritivas e negligência por parte dos pais, tenha havido brigas constantes entre seus genitores e até mesmo abusos paternos para com o jovem Severo. Esses aspectos vão construindo um Snape vulnerável, inseguro e problemático no campo social; o bullying impiedoso que sofre por parte dos Marotos só agrava a situação. As suas más escolhas – companhias torpes e envolvimento com magia das trevas – durante o período em que frequentou Hogwarts associadas à necessidade de ratificar uma personalidade instável e a um talento excepcional em praticamente todas as áreas da feitiçaria engendraram em Severo Snape o desejo de render-se às artes das trevas, aliando-se a Voldemort e comungando com muitos de seus ideais. Esse desejo, é bem verdade, sobrepôs-se em certo ponto ao amor que nutria por Lílian – talvez única forma verdadeira de amor que conheceu durante a vida. Não porque fosse esse desejo maior ou mais intenso. As circunstâncias sob as quais se desenvolveu seu relacionamento com Lílian terminaram por influenciar os acontecimentos posteriores. A palavra dita “em fúria e humilhação”, de que se arrependeu até o último suspiro de vida, e o envolvimento de Lílian com seu “arqui-inimigo” execrado – Tiago Potter – provocaram seu distanciamento e propiciaram que Snape mergulhasse em um poço de obscuridade. Note-se, contudo, que, embora estivesse imbuído de trevas, seu amor por Lílian nunca se extinguiu ou esmoreceu... Somente após ter revelado a Voldemort o conteúdo da profecia de que tivera conhecimento, é que se deu conta de que acabara de cometer talvez o maior erro de sua vida. Quando mensurou as consequências que o conhecimento do vaticínio pelo Lorde das Trevas poderia produzir, desesperou-se a ponto de suplicar-lhe que a poupasse e, sem sucesso, de rogar a Dumbledore que a ajudasse e protegesse, oferecendo em troca qualquer coisa. Qualquer coisa para evitar que perdesse o que não lhe pertencia e o que, entretanto, era-lhe mais precioso. Não é possível que haja dúvidas, nesse ponto ou em qualquer outro, acerca do amor de Snape. Amor e, portanto, medo de perder definitivamente, e não apenas remorso, visto que Lílian ainda vivia.

Após a morte de Lílian, o amor passou a coexistir com angústia e dor infindas. Esse fardo ingente motivou o florescimento de toda a coragem e lealdade que manifestou em seus atos – somente revelados naquele terrível e esplêndido capítulo trinta e três. Era o agente duplo perfeito... Já não havia Snape, havia a causa por que trabalhar – o “bem maior” – e nada mais. Os olhos azul-vivos perfurantes de Dumbledore, afinal, eram mesmo capazes de perscrutar a alma detrás dos peculiares óculos de meia-lua: não era à toa toda aquela confiança, por vezes taxada de cega e leviana.

O que tinha de melhor sempre procurou esconder; não via sentido em receber louros que expusessem o sofrimento com que teve de conviver e todo o esforço daí oriundo que teve de desenvolver a fim de proteger Harry Potter, a mais vívida e pungente lembrança de tudo aquilo que perdera, do que o seu maior desafeto ganhara em seu lugar: o amor de Lílian.

E quanto à implicância, crueldade e parcialidade para com o trio protagonista e os demais estudantes não-sonserinos? Bem, não mais que frutos inequívocos do amargor de uma alma perenemente fosca e de uma personalidade desfalcada que impositivamente influiu em todas as escolhas de caminhos que trilhou; o que, todavia, não o impediu de realizar os mais egrégios atos, não lhe tolheu a capacidade de amar, não o incapacitou de conjurar uma graciosa corça prateada como patrono corpóreo. Um patrono, inclusive, cujos elementos genitores eram explícitos por sua própria forma, isto é, a corça (agora de Snape) era o símbolo do que a produzia: Lílian, o amor por Lílian, as lembranças de Lílian, o patrono de Lílian.

Toda a vida de Snape foi o resultado de uma nefasta confluência de eventos. Por muitos deles foi responsável e, como ninguém, conseguiu minimizar expressivamente os tétricos desdobramentos de suas más escolhas. Redenção? Não acredito que a tenha alcançado; não creio que seria capaz de perdoar-se ou de considerar qualquer mérito suficiente ou capaz de esmaecer seu pesar. Talvez não seja adequado julgá-lo herói como se concebe por padrão: seus atos não foram altruístas, era falho e corrompido, fez muitas escolhas erradas... Foi triste, infeliz, amargo. Não desejou ser um herói; nem mesmo desejou agir como um.

A beleza da alma de Snape não é óbvia. Só a enxerga quem é sensível o bastante para perceber que, mesmo nos solos mais atrofiados, como os de uma alma devastada, é possível haver vida, isto é, amor. Uma forma esquálida, feia e frágil; e, no entanto, vívida, bela e contumaz – capaz de manter vivo um amor legítimo e sublime, e dele auferir o mais valioso elixir.

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Novos pensamentos para nossa Penseira

Mais uma vez, trago uma ótima novidade para o blog. Agora, venho para anunciar a chegada de três novos membros para a equipe do Da Penseira, três amigos. São eles:

Luan Côrtes - 17 anos, residente em Feira de Santana - BA. Começará a cursar medicina no segundo semestre. Um exímio amante da língua portuguesa. Vocês entenderão o que estou dizendo quando lerem as colunas dele.

Daniel Souza - 18 anos, mora em São Paulo, capital. É estudante de Letras e devo dizer que entende bastante de literatura. Esperem dele colunas, análises e até uma mini-fic.

Carol Souza - 14 anos, residente em Salvador - BA. É estudante do nono ano. Conheceu a série aos 04 anos, então, embora seja a mais jovem da equipe, é fã de longa data. Falará de tudo um pouco, mas como é viciada em games, esperem boas críticas aos jogos da série.

Bem, fica complicado falar assim, em linhas gerais, sobre esses três. Apenas confiem em mim quando digo que são três acréscimos valiosos ao blog.

Ah, e hoje ainda tem a estréia do Luan com uma coluna sobre o amado/odiado Severo Snape! Não deixe de conferir.

P.S.: devo dizer que este "Leia mais!" abaixo sem necessidade é algo a se resolver.

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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dois filmes, uma história

Quando em 12 de março de 2008 foi confirmada a informação de que a adaptação cinematográfica do livro Harry Potter e as Relíquias da Morte se daria em duas partes, a primeira reação dos fãs, possivelmente, foi se perguntar: "Onde será a divisão?".

Na verdade, faltando 05 meses para o filme, tal informação ainda não foi confirmada para os fãs [e espero que assim permaneça; seria ótimo saber disso apenas nos cinemas]. Porém, há alguns dias, o produtor David Heyman, em conversa com o Mugglenet, revelou que o ponto divisório de Relíquias da Morte foi, finalmente, decidido:
“O roteiro [da Parte I] foi escrito com um fim em mente. O primeiro rascunho foi escrito com um final e à medida que nós fomos desenvolvendo-o, ele caminhou para outra conclusão. Então nós voltamos em parte para o fim original porque nós sentimos que ele permitia uma conclusão mais emocional e que era mais completo, como estava. Mas nós adicionamos esta outra cena, que eu acho realmente fantástica – eu não posso contar a vocês onde é a divisão, desculpem – mas sinto que será incrivelmente dramática, muito comovente e fará as pessoas quererem assistir o próximo filme”.
Nas especulações dos fãs, tendo em vista os pontos da história com potencial para gerar uma divisão, as seguintes cenas são as mais cotadas:

a) Após a cena da destruição da horcrux-medalhão, com o retorno de Rony e Harry à cabana em que está Hermione;
b) Quando o trio é capturado pelos sequestradores e Fenrir Greyback;
c) Um pouco após a cena b), com o trio se dando conta que está na Mansão Malfoy;
d) No Chalé das Conchas, após a morte e enterro de Dobby.

Em nosso primeiro "Confabulando", vamos discutir: o que fala a favor e contra cada um dos pontos?

Cena a)

A favor: Espera-se que seja uma cena com grande potencial emotivo, pelo retorno do amigo que, como se sabe, estava fazendo grande falta para Harry e Hermione. Além disso, há um certo clímax próximo a este final, que é a corça prateada, o achado da espada de Gryffindor e a destruição da Horcrux.

Contra: Francamente, não acredito que o clímax gerado seja o bastante para ser o fim do filme. E mais, enfraquece este ponto o fato de que se o filme aqui encerrar, os espectadores sairão dos cinemas sem saber o que são as Relíquias da Morte, que dão título ao filme. Ao meu ver, este não é o final de RdM I.

Cena b)

A favor: Algumas entrevistas sugeriram este final. O usuário do HarryPotterForum que divulgou diversas informações do filme [são rumores, mas que se mostram verídicos a cada nova imagem de Relíquias que surge] também falou que o final na cena do sequestro é uma das hipóteses. Além disto, a cena ocorre um pouco depois do meio do livro.

Contra: Concordemos que não gera um clímax apropriado para o final: o trio está lá na cabana, Harry se encantando com as possibilidades que as Relíquias podem lhe trazer, quando fala o nome de Voldemort sem querer e os comensais surgem. Tá, eu sei que os produtores prometeram ótimas sequências de ação envolvendo o trio e os sequestradores. Ainda assim, não é nada "dramático" ou "muito comovente", nas palavras de Heyman. Descarto.

Cena c)

A favor: Praticamente, os mesmos motivos que contribuem positivamente para o ponto b). Além do fato de que vermos o trio entrando no quartel general dos Comensais da Morte deixaria tudo ainda mais tenso.

Contra: Isso teria que ser muito bem representado no filme para gerar a tensão necessária para um final. Nós, como fãs, com certeza iremos nos arrepiar com a simples visão da Mansão Malfoy [sabendo de tudo que aguarda o trio lá dentro], mas lembrem-se que nem todos leram o livro. Não é comovente. Para mim, fora.

Cena d)

A favor: Aqui será o final da primeira parte de Relíquias da Morte. E não, eu não estou indagando. Posso estar errado, mas aposto que será [inclusive, adiante, direi até a imagem que imagino ser a última cena da parte I].

O que fala a favor? Bem, é uma cena que se segue a uma sequência dramática e incrivelmente tensa, que é tudo que ocorre na Mansão Malfoy. Além disto, há a aparente superação de um obstáculo, com a posterior percepção da morte de Dobby. Como se não bastasse, no livro, é o ponto em que Harry decide como vai agir: se ele estava em dúvida se buscaria as Relíquias ou as Horcruxes, é aqui que ele toma sua decisão.

Além disso, se vocês pararem para pensar, nos últimos três filmes da série, o final tem sido sempre em um tom meio nostálgico, reflexivo. Em Cálice de Fogo, é o pós-morte de Cedrico, com a despedida das escolas estrangeiras. Em Ordem da Fênix, pós-morte de Sirius, com aquela mensagem do "algo por que vale a pena lutar". Em Enigma do Príncipe, pós-morte de Dumbledore, com o trio anunciando que vai partir junto. E em Relíquias da Morte parte I será Harry decidindo-se pelas Horcruxes, tal qual Dumbledore quis, pós-morte de Dobby.

Potencialmente dramático, comovente e, com certeza, fará as pessoas quererem ver o próximo filme.

Contra: Alguns afirmam que isto ocorre muito além da metade do livro, então pode ser que sobre "pouca história" para a parte II. Outros, que seria estranho começar o segundo filme já com uma cena de ação, que será o assalto ao Banco Gringotes. E se você tiver outro ponto contra, pode dizer aí nos comentários.

Conforme eu falei, sabe como imagino o final da parte I? Com esta imagem aqui:


Algumas fotos dos bastidores mostram que a cena acima não é do enterro de Dobby. Harry está com outra roupa no momento do enterro. Eu imagino que isto ocorra algum momento após o enterro, em que Harry vai lá visitar o túmulo do elfo... e fica lá, olhando para o túmulo, com a bela paisagem da praia e das dunas ao seu redor. Imagino uma trilha sonora triste... e então Harry se decide: vou em busca das Horcruxes; me envolvi com a história das Relíquias e olha no que deu? Dobby, que não tinha nada a ver com isso, está morto. Quantas vidas mais irão se perder por minha conta? Vou fazer o que Dumbledore mandou.

OK, não sei como estas reflexões poderão ser mostradas em tela; talvez possa ser que o Harry comente seus pensamentos com Rony e Hermione logo depois. Mas eu posso apostar que a parte I vai terminar em um momento triste e nostálgico mostrando o azul desta praia.

E se você duvida que a última cena do filme seria mostrada em um sneak peek, basta assistir alguns trailers de Enigma do Príncipe ou este featturete para notar que a última cena do sexto filme foi mostrada em trailer, sem que percebêssemos, naturalmente.

Não sei onde será o ponto divisório, mas estou praticamente certo sobre ele. Porém, espero que não confirmem nada até o lançamento do filme. Acho improvável, mas eu quero esta surpresa. E você, acha que eu estou errado?

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Mais do que para ouvir, música feita para sentir

Fico feliz em anunciar que o Da Penseira ganhou um music player! Você pode encontrá-lo ali na barra lateral. A nossa playlist traz várias das belas e mais memoráveis faixas compostas para a trilha dos filmes Harry Potter. Experimente navegar no blog apreciando as músicas disponibilizadas.

"Apreciando", sim. Se você não é fã de trilhas sonoras, se não presta tanta atenção assim nelas durante um filme, eu lhe digo: a música para um filme é como a alma para um corpo. Não estou insinuando com isso que o cinema mudo é indigno, mas fica impossível imaginar uma película atualmente sem o conjunto imagem e som, sem o efeito singular que uma trilha sonora bem produzida proporciona.

Uma cena sem trilha sonora ou com uma música diferente pode transmitir uma sensação distinta, outro significado, outra emoção. A trilha é importante porque, mesmo que você não perceba, é capaz de dar o clima, a tensão, necessários para a composição da sequência e para expressar aquilo que o diretor quer.

Felizmente, Harry Potter é bem provido por trilhas sonoras de qualidade. Os compositores que passaram pela saga são: John Williams (responsável por Pedra Filosofal, Câmara Secreta e Prisioneiro de Azkaban), Patrick Doyle (Cálice de Fogo), Nicholas Hooper (Ordem da Fênix e Enigma do Príncipe) e Alexandre Desplat (Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte I). Especula-se que John Williams voltará para a parte II do sétimo filme, mas, a depender dos resultados produzidos por Desplat, pode ser que este acabe compondo a trilha também do último filme da série.

Sobre compositores, só um adendo: você sabia que a trilha do segundo filme não é, de toda, mérito do John Williams? Os temas foram compostos por John, mas devido ao fato de estar trabalhando em um filme de Steven Spielberg (Prenda-me, se for capaz), o compositor Williams Ross foi contratado para adaptar e conduzir os temas de Câmara Secreta. Talvez isto justifique o que li recentemente por aí: "John Williams não dá a devida atenção para Harry Potter". Você concorda?

Mas, enfim, este post não se propõe a analisar as trilhas. Isto ocorrerá posteriormente, não se preocupe. A minha proposta é apenas esta: aprecie trilhas sonoras; sem moderação. São músicas que podem falar contigo, de tão expressivas que são. Você pode encontrar trilhas que expressem a felicidade que você sente, ou ainda a tristeza, a saudade, o triunfo, a decepção. Não desista de procurar, há uma música feita para você, que vai lhe fazer sentir arrepios e pensar "Caramba, esta é a minha música".

Por ora, em nossa playlist, sinta-se livre para: desde conhecer a música que expressa a pureza e inocência mágica dos primeiros Harry Potter até voar em um hipogrifo ou dançar como um.

Depois, responda-nos: qual a sua faixa favorita? Qual seu compositor favorito (dentro e fora da série)? Nós esquecemos alguma música? Diga-nos qual.

P.S.: Em breve, adicionaremos algumas músicas de Alexandre Desplat para que vocês conheçam os trabalhos anteriores do novo compositor da saga Harry Potter. Ah, e quem entende de html para blogs, se conhecer um player melhor do que este que utilizamos, pode sugerir nos comentários.

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Primeiros pensamentos

Sejam bem-vindos, leitores!

É realmente difícil descrever esse ato que realizamos sempre e sequer notamos, talvez a imagem da Penseira nos sirva bem a esse propósito, o ato de pensar em constantes rodopios e perspectivas. Os pensamentos, por mais que nos assombrem, estão em conexão com o que somos e (quase sempre) nos são compreensíveis. A grande dificuldade está em dividí-los com alguém, sabendo da possibilidade de ser visto como um louco, ser criticado ou humilhado, por que ao transmitir nossas reflexões, mergulhamos num mar de conceitos em que podemos nos afogar sem nunca transmitir. Não é fácil dividir pensamentos, então desculpem as possíveis reflexões ilógicas e mal formuladas, pois é difícil controlar o fluxo de rodopios e transferir lógica aos meus subjetivos pensamentos.

Hoje, postarei esse primeiro pensamento, sobre algo que muito me incomoda na série Potter há alguns anos e que talvez seja a única grande divergência que tenho com os modelos de Hogwarts: A seleção e divisão por Casas. Sei que será visto por muitos como uma grande heresia e espero fortes comentários a esse respeito, lembrando que está é minha opinião e não necessariamente as impressões do Flávio sobre o assunto.

Não adiantarei mais nada, apenas os convido a adentrar o mundo de meus rodopiantes pensamentos.

Divisão sem fundamento

Desde os primeiros capítulos de Pedra Filosofal, notamos as divisões no mundo mágico e escolhemos um lado. Harry Potter é a saga das escolhas, sem dúvida. A primeira e, possivelmente, mais importante divisão é a das casas de Hogwarts. Todo fã já fez sua escolha, baseando-se nos quesitos para pertencer a cada casa. Entretanto, conforme os anos passaram e o mundo Potter se tornou mais complexo e interessante, notei que essas divisões só existem por disputas internas entre os fundadores de Hogwarts, coisas que aconteceram há séculos atrás, mas é impossível definir uma pessoa por critérios de semelhança, como o Chapéu Seletor vem fazendo há anos, e essa divisão deixou marcas e trouxe destruição ao mundo bruxo.

Ao observar isoladamente os membros de cada casa, percebo que alguns se uniriam de qualquer forma, já que é natural ao ser humano manter contato com seus “iguais”, pessoas com opiniões e gostos parecidos com os seus; traçamos relações mais facilmente com esses “semelhantes”. Não posso duvidar, por um momento sequer, que a amizade do trio, por exemplo, sempre foi algo predestinado, como normalmente acontece com nossos grandes amigos: simplesmente ‘nos encontramos’. Harry e Rony passam aquela sensação de leveza característica dos encontros entre amigos: as conversas bobas, o apoio incondicional, mostrando também as brigas e diferenças, que são naturais em quaisquer relações. Hermione trás o equilíbrio com sua percepção mais apurada e seu raciocínio lógico, aprofundando a amizade do trio nas horas mais difíceis. Juntos, formam um grupo arguto, leal e corajoso, grupo que Gryffindor trataria muito bem, sem dúvida.

Quando penso nos Marotos, o encaixe deixa de ser tão perfeito. O grupo é brincalhão (até mesmo cruel, eu diria), nem um pouco preocupado e muito aventureiro. Ao olhá-los, percebo um membro perdido por ali: Pedro Pettigrew. Sirius e James são o encaixe natural, com certeza seriam amigos em qualquer situação. Lupin está mais próximo de pessoas como Lílian, discretas e bondosas como ele próprio. Rabicho, entretanto, não estaria próximo a ninguém em época alguma, nenhum membro da Grifinória (seguindo os critérios) seria naturalmente seu amigo. Ele não tem a coragem, nobreza, o sangue –frio ou qualquer outra qualidade dos membros de Grifinória, o que me leva a questionar as escolhas do Chapéu Seletor.

Muitos dizem que Rabicho é um legítimo sonserino, mas não vejo astúcia ou ambição em seus atos. Penso que a covardia o fez se unir sempre aos mais fortes, independente dos rumos que essas alianças pudessem tomar. É claro que Rabicho não foi ambicioso ao se unir a Voldemort, se fosse um homem ambicioso não viveria anos como um rato, com a prisão de Sirius, o natural seria sair livremente e tentar lucrar mais uma vez, o que não foi o caso. Sobreviveu tanto tempo não por astúcia, mas por sorte e insignificância.

Ao tentar colocar Rabicho junto aos lufanos não obtive êxito, falta-lhe a lealdade, a paciência, a sinceridade e todas as outras qualificações dos moradores desta casa. Na Corvinal ele também não estaria, já que não o considero inteligente, sábio, e tampouco um homem de “mente alerta”, então, onde estaria Rabicho?

Penso que se não houvesse casas, ele seria uma pessoa sozinha em Hogwarts, tirando notas baixas, tentando se juntar a qualquer grupo, mas sem muito êxito, vivendo isolado e perdido, seus anos pós-Hogwarts dificilmente o colocariam no caminho de Voldemort e da traição aos Potter, já que não haveria motivo para o Lorde se interessar por tal pessoa. Sirius (ou Lupin) seria o fiel do segredo, os Potter nunca teriam sido aniquilados e Harry jamais seria o menino da cicatriz. Ao colocar Rabicho na Grifinória, o Chapéu deve ter pensado que era um lugar onde Pedro aprenderia bons valores, mas isso não aconteceu e muitos pagaram por esse erro.

Outra personagem que vejo diretamente ligada a questão das casas é Severo Snape e imagino o mundo mágico com um Snape não-sonserino. Snape tem as qualidades sonserinas, que não vejo como defeitos, considero astúcia e ambição muito dignas quando usadas com sabedoria, nada em excesso é bom, na verdade. Um homem excessivamente corajoso, torna-se estúpido e leviano, colocando muitas vidas em risco numa batalha, por exemplo. A astúcia em justa-medida talvez ajudasse tal homem a refletir sobre seus atos neste momento. Junto às qualidades de um sonserino, Snape revela a coragem e o sangue-frio dignos de um membro da Grifinória, a lealdade Lufana, inteligência dos membros de Corvinal, logo, Snape poderia pertencer a qualquer casa e, possivelmente seria uma pessoa normal, pois as casas ajudariam a minimizar seu ego.

Longe da Sonserina de sua época, teríamos um Snape sem motivos para se unir aos Comensais, visto que nunca odiou os nascidos-trouxas, os Comensais não teriam interesse nele, já que não era um puro-sangue e legítimo sonserino. Snape seria sempre um rapaz problemático, considerando sua relação familiar, escolheria viver em Hogwarts para sempre, se pudesse, e teria grande interesse pelas Artes das Trevas (que tem mais relação com sua inteligência e curiosidade do que com crueldade, ao meu ver). Lílian seria, possivelmente, sua única amiga e acredito que sua relação com os Marotos não mudaria, no entanto, ele nunca perderia Lílian, pois não teria de escolher entre ela e os amigos Comensais e mesmo que a mulher se casasse com James, eles poderiam continuar amigos e Snape se tornaria apenas uma pessoa solitária e amargurada pelo amor não correspondido, mas sem culpa alguma em relação aos Potter, pois nunca colocaria Voldemort atrás de Lílian. Esse Snape em qualquer casa, ou sem casa alguma, poderia até mesmo se apaixonar, ser correspondido e superar seus traumas.

Sempre que penso nesses dois personagens, vejo como tudo seria diferente se não houvesse casas em Hogwarts. Sem elas, não teríamos os grupos se unindo tão facilmente, ideias sobre a superioridade dos puros-sangues existiriam, mas nunca teriam uma bandeira tão forte e espaço para procriar, como sempre foi na Sonserina. Pessoas como Neville e Luna não seriam humilhadas por serem diferentes, apenas se juntariam e formariam seus grupos “nerds”, sem a necessidade de honrar a critérios estabelecidos há mil anos.

Voldemort teria um trabalho muito maior para encontrar seguidores, pois eles não estariam nas masmorras, só aguardando um líder. Os Malfoy teriam seus ideais distorcidos, mas não encontrariam tanto espaço para pensar em formas de dominação da “ralé” e quem sabe, com o tempo, até mudassem um pouco tais pensamentos.

Dividir pessoas por uma de suas inúmeras qualidades é um absurdo e pode causar danos irreparáveis às sociedades, isso é algo que Harry Potter deixou bem claro. Somos seres complexos e não podem nos avaliar de forma tão unidimensional.

Por mais que, como potterfã, seja acostumada ao sistema de Casas e ache-as divertidas, sempre pensarei muito nas palavras de Dumbledore em Harry Potter e as Relíquias da Morte: “Sabe, às vezes penso que fazemos a Seleção cedo demais...”, para mim, as seleções, na verdade, nunca deveriam ter sequer começado.

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domingo, 13 de junho de 2010

Inaugurando...

Tudo precisa de um começo. E aqui nós começamos.

Este blog surge como a concretização de um desejo de muitos anos. Sempre almejei ter um espaço para compartilhar pensamentos e emoções, refletir sobre certas coisas da vida e, é claro, falar sobre coisas de que gosto. Só que eu ia adiando e adiando até que algo aconteceu: a nostalgia, a saudade já existente em relação ao fim da série Harry Potter nos cinemas, fez com que eu me desse conta de que não há mais tanto tempo assim.

Sim, parto do pressuposto de que você é um potteriano; só assim teria encontrado este blog. Caso não seja, perdoe-me o "pré-conceito". A Penseira, como você pode ler no banner deste site, é um objeto mágico, proveniente dos livros de J.K. Rowling, em que se pode depositar pensamentos que lhe enchem a cabeça, mas você pode consultá-los vez ou outra, vivenciá-los como se fossem reais, como se tivesse voltado no tempo.

Assim, acredito que seja um nome apropriado para um blog que expressará pensamentos. Mas, em conforme com o banner, não espere muitos pensamentos e reflexões pessoais. Ou melhor, não tema por isto. Como potteriano, meu objetivo maior é discutir a série, comentar, confabular, noticiar, relembrar, compartilhar emoções.

E não estarei sozinho nisso. Contarei com a ajuda de algumas pessoas, dentre elas a Paty Moreira, da Armada Potterish. Em breve, o nome de outras pessoas que ajudarão aqui no blog também estarão ali na barra lateral.

O blog está só começando, está engatinhando. Portanto, ajude-nos: visite-nos, dê sugestões, comente. Dessa forma, cresceremos juntos.

P.S.: Siga-me e siga-nos no Twitter -> @flaviobessajr e @dapenseira.
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