sexta-feira, 22 de julho de 2011

Salazar Slytherin: anacronismo e pureza de sangue


    Olá amigos potterianos! Há séculos que não posto por aqui... Ando precisando mesmo de um vira-tempo. Depois de muito tempo sem ler HP consegui fazer uma pseudo-releitura da série esse ano e como sempre novas ideias surgiram, gostaria de dividir algumas delas com vocês na coluna a seguir, mas antes falemos sobre Relíquias da Morte parte 2.
    Sim, todos se sentem vazios depois dessa estreia. Por mais que 2007 tenha sido o pior ano para a maioria de nós, esse prolongamento da série cinematográfica nos ajudou a superar, pois ainda tínhamos o que discutir. Porém, não vim aqui para fazer o discurso melodramático (os que me conhecem sabem que esse não é o meu estilo), gostaria apenas de dizer que para mentes bem-estruturadas como as nossas, tudo é apenas a aventura seguinte.
    Harry Potter só acabará no dia em que ninguém mais lembrar, refletir ou discutir sobre a série e sabe quando isso vai acontecer? Nunca! Faço agora um apelo mesmo: vamos parar de chorar e nos despedir como se fosse o fim, ainda temos muito que discutir, haverá o Pottermore com inúmeras informações incríveis e temos nosso amor à série, os amigos que fizemos nesses anos de devoção a saga... Ainda existe uma aventura seguinte, afinal! Não deixem de reler, rever e escrever fics, colunas, teses e afins. São nas ações de fãs a cada dia que a série permanecerá sempre viva!

Sem mais delongas, vamos a coluna em si. Não esqueçam de um “malfeito-feito” ao final da leitura e dos comentários. :)

Fanart de J. Lestrange.


                                Salazar Slytherin: anacronismo e pureza de sangue 


    Como o título já diz, neste texto pretendo discutir a figura de Slytherin e o conceito de pureza de sangue creditado ao lendário fundador de Hogwarts. Minhas reflexões partem da ideia de que somos anacrônicos ao discutir Salazar Slytherin, visto que nos revoltamos com uma ideia proposta no “olho do furacão”: a Idade Média. Desenvolvamos... 
    Desde o primeiro encontro de Hagrid e Harry em Pedra Filosofal nos deparamos com uma visão perpetuada sobre Sonserina, segundo Hagrid “Não tem um único bruxo nem uma única bruxa desencaminhados que não tenham passado por Sonserina” (PF:73). Como sabemos essa é uma afirmação deveras extremista, pois não leva em conta o caso Rabicho (ou Sirius, na época ainda não inocentado), por exemplo. O importante é que desde o começo temos uma visão clara do que é a Sonserina, visão que Rowling tenta derrubar na pessoa de Snape ou em entrevistas nas quais diz ter havido sonserinos na Batalha de Hogwarts. O problema é que a visão global sobre a casa estava formada e esta sempre será o lugar da pureza de sangue, do preconceito e de prováveis bruxos das trevas. 
    Ora, quem foi que disse que Slytherin era um bruxo das trevas para começar? Ele cometeu um grande erro ao construir a Câmara Secreta, mas será que a história pode ser tão simplificada? 
    Em Câmara Secreta o Prof. Binns - em um de seus poucos momentos úteis na série - conta sobre a fundação de Hogwarts e o desentendimento entre Salazar e os outros fundadores das casas: “Os senhores todos sabem, é claro, que Hogwarts foi fundada há mais de mil anos... a data exata é incerta... pelos quatro maiores bruxos e bruxas da época. As quatro casas da escola foram batizadas em homenagem a eles: Godrico Gryffindor, Helga Hufflepuff, Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin. Eles construíram este castelo juntos, longe dos olhares curiosos dos trouxas, porque era uma época em que a magia era temida pelas pessoas comuns, e os bruxos sofriam muitas perseguições” (CS:131). 
    A data aproximada da fundação de Hogwarts é por volta de 992 d.C e como os diz Binns era uma época difícil para se revelar a magia, por isso a necessidade de construir o castelo longe de redutos trouxas. Muitos dirão que os bruxos não sofriam de verdade com as perseguições trouxas na época medieval, pois como Harry estuda em Prisioneiro de Azkaban, havia bruxos que até gostavam de ser queimado na fogueira, como era o caso de Wendelin, a Esquisita (PdA:09). Contudo, se era tão simples sumir ao olhar dos trouxas medievais por que construir Hogwarts às escondidas? E por que posteriormente se assinaria um Estatuto Internacional de Sigilo em Magia? Simplesmente porque não era fácil e tampouco agradável viver dessa forma.  
    É justamente nesse momento histórico de animosidade entre bruxos e trouxas que ocorre o rompimento entre Salazar Slytherin e os outros três fundadores de Hogwarts. O Prof. Binns comenta que “durante alguns anos, os fundadores trabalharam juntos, em harmonia, procurando jovens que revelassem sinais de talento em magia e trazendo-os para serem educados no castelo. Mas então surgiram os desentendimentos. Ocorreu uma cisão entre Slytherin e os outros. Slytherin queria ser mais seletivo com relação aos alunos admitidos. Ele acreditava que o aprendizado de magia devia ser mantido no âmbito das famílias inteiramente mágicas. Desagradava-lhe admitir alunos de pais trouxas, pois os achava pouco dignos de confiança. Passado algum tempo houve uma séria discussão sobre o assunto entre Slytherin e Gryffindor, e Slytherin abandonou a escola”. (CS:131) 
    É notável que a seleção proposta por Slytherin revela um aspecto de desconfiança muito maior do que o tão falado preconceito sanguíneo. Percebemos que o bruxo tinha medo de ser traído pelos nascidos trouxas que deixassem entrar em Hogwarts, era um momento de crescente hostilidade entre os dois povos e Salazar propõe muito mais cuidado do que qualquer outra coisa. Naturalmente os outros fundadores de Hogwarts não eram tão inflexíveis quanto Slytherin e preferiram acreditam na lealdade dos nascidos trouxas aos seus poderes mágicos. Helga, Rowena e Godric viram além de seu tempo e merecem todo nosso respeito por isso, mas não podemos considerar os argumentos de Salazar indignos pois se assim agirmos, não levaremos em conta as relevantes questões de História da Magia presentes na série.
   Pergunto-me se Slytherin pensaria da mesma forma caso pudesse ver Hogwarts no futuro, será que o bruxo seria favorável as ações de Lord Voldemort, por exemplo ou talvez vendo bruxas absolutamente geniais como Lily Evans e Hermione Granger ele perceberia que seus medos eram infundados. Estamos falando de um dos maiores bruxos de todos os tempos, que foi amigo de outros três grandes magos de seu tempo, não creio que o astuto Slytherin dos brejais fosse tão inflexível ao ponto de não notar o óbvio: a magia não escolhe sobrenome. Acredito que nós é que vemos o passado com olhos de quem conhece o futuro e não percebemos os meandros da história humana. 
    Voltemos a ideia de que Salazar tenha sido um bruxo das trevas. Corrijam-me se estiver enganada, mas isso não tem respaldo cannon em lugar algum, muito pelo contrário, não se fala sobre os passos de Salazar após sua saída de Hogwarts e, sem dúvida, se o bruxo tivesse sido uma espécie de Grindelwald ou Voldemort do medievo isso seria mencionado. O único ato de Salazar foi criar a Câmara e esperar que seu herdeiro viesse “para expurgar a escola de todos que não fossem dignos de estudar magia” (CS:132), algo que não teria acontecido se Lord Voldemort não chegasse a Hogwarts (vejam quanto tempo a Câmara ficou encerrada). 
    Talvez a grande marca do bruxo das trevas seja a ofidioglossia e como Slytherin possuía o dom ele era, obviamente um bruxo das trevas. Pois bem, vamos pensar só um pouco antes de fazer uma afirmação tão extremista (afinal, afirmações extremas não são nada boas). Além de Slytherin, os ofidioglotas conhecidos são: Servolo Gaunt, Mérope Gaunt, Morfino Gaunt, Tom Riddle, Herpo, o Sujo e Harry Potter. 
    Podemos excluir Harry da lista, pois, como sabemos, seu dom foi transmitido por Lord Voldemort na fatídica noite em que o menino sobreviveu. Temos os Gaunt, seres medíocres que atacam trouxas acreditando numa superioridade a muito perdida, mais dignos de pena do que qualquer outra coisa. Há também Riddle, inegavelmente um bruxo das trevas e Herpo, o Sujo que foi “um bruxo das trevas de nacionalidade grega e ofidioglota, que descobriu, após muitas experiências, que um ovo de galinha chocado por um sapo produzia uma cobra gigantesca dotada de poderes extraordinariamente perigosos” (AFOH:24). Dizem (mas há controversas) também que Herpo teria sido o primeiro a fazer uma horcrux, portanto, este era um grande nome para o lado das trevas.  
    Com exceção de Voldemort e Herpo não há indícios de outros bruxos que tenham feitos das trevas memoráveis e se pensarmos que o grande feito comprovado de Herpo foi um experimento com criaturas mágicas à la Hagrid estamos em sérios apuros ao afirmar que ofidioglossia é um dom das trevas.                Sinceramente, a primeira vez que vemos esse dom ser utilizado é um dos momentos mais mágicos da série, quando Harry liberta a Boa Constrictor (PF: 29) e acho um grande exagero dizermos que ofidioglossia é um dom das trevas baseados em números tão pequenos.  
    Se Slytherin não pode ser considerado alguém realmente mau pelos motivos acima citados resta-nos os seus valores, aqueles mesmos que observamos nos alunos da Sonserina: ambição, astúcia, desenvoltura e puro-sangue. Talvez não sejam mesmo os melhores motivos para se aceitar alguém, mas essa é a lógica da seleção das casas; desprezar certos valores em relação aos outros. Se pararmos para observar com cuidado é possível que Helga Hufflepuff fosse a única a exigir dignos valores de seus alunos e os mais difíceis de conseguir: lealdade, justiça e tolerância. Deixemos a contestada seleção das casas de lado, até porque a essa altura a maioria de vocês já conhece minhas opiniões sobre elas e não é este o foco de meus rodopiantes pensamentos no momento. 
    Não estou aqui para defender as ações de Salazar Slytherin, ele errou, não visualizou o futuro do mundo bruxo como os outros fundadores de Hogwarts e se deixou levar pelo medo, não foi sábio o suficiente. Mesmo assim não podemos culpá-lo por todas as apropriações que os bruxos fizeram de suas ideias no futuro, pessoas que não levaram em conta o tempo e espaço em que Salazar estava inserido. Seria o mesmo que culpar Nietzsche pelas apropriações nazistas de suas obras. Os homens usam as ideias da forma que bem entendem e a saga demonstra isso a todo o momento. Slytherin foi apenas alguém reagindo ao seu tempo e muitos sonserinos não perceberam o anacronismo ao utilizar essas ideias num mundo contemporâneo em que tais teses, a muito, foram superadas. Culpemos, pois, os que se utilizam de argumentos ultrapassados para praticar o mal e não aqueles que defenderam coisas convenientes em outros tempos e a outras formas de entendimento.

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domingo, 31 de outubro de 2010

Gostosuras ou Travessuras?

Gostosuras ou Travessuras?

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sábado, 21 de agosto de 2010

As Horcruxes, a Pedra Filosofal, as Relíquias da Morte e o Eterno Devaneio Humano de Imortalidade


Olá, leitores e leitoras! Hoje vim compartilhar meus pensamentos sobre um tema que me fascina e é assaz recorrente em Harry Potter: o desejo do ser humano de driblar a morte. Para isso, usei como suporte os fascinantes objetos acima. Qual dos três "métodos" de viver para sempre lhes parece mais eficaz, válido ou digno? Espero que apreciem e deixem suas impressões. Boa leitura!


A racionalidade e a subsequente consciência da própria finitude engendram nos seres humanos o desejo de entender esta limitação existencial – o que, de certa forma, explica a variedade de religiões e crenças diversas e sua relevância –, o medo da incógnita que ela representa – já dizia Dumbledore que é o desconhecido que tememos, quando olhamos para a morte e a escuridão – e, posterior e quase invariavelmente, o devaneio de aniquilá-la. Nesse mote, bruxos e trouxas compartilham muito do imaginário, e até certos mitos trouxas, como o do Santo Graal e o da própria pedra filosofal, estão presentes na história da magia sob formas variadas, sejam como lendas propriamente ditas, sejam como elementos comprovada ou duvidosamente verídicos. No caso dos trouxas, essa aspiração é limitada à ficção, ao desenvolvimento tecnológico desenfreado que acresce gradativamente a expectativa de vida e a certas espécies de comportamento perante o tempo e a vida; já com os bruxos a situação estende-se drasticamente até o limiar da efetividade, o que, a propósito, apresenta-se como uma sapientíssima alegoria desenvolvida por J. K. Rowling para ilustrar essa intrigante peculiaridade.

Embora possuíssem diferentes percepções do moralmente aceitável ou interpretações distintas da primeira das Leis Fundamentais da Magia, Herpo, o Sujo, Nicolau Flamel e os irmãos Peverell foram movidos essencialmente pelo mesmo anseio de derrotar a morte, quando conceberam e propriamente levaram a cabo suas criações. O desfecho que J. K. Rowling arquitetou para essas cobiçadas invenções conduz-nos à mensagem que ela procurou transmitir acerca da morte em seus sete volumes. Vejamos se se faz clara.

A primeira horcrux é atribuída ao bruxo grego Herpo, o Sujo, também responsável por criar o petrificante basilisco. Inegavelmente brilhante, Herpo desenvolveu um método de evitar a morte: através de um complicado e abominável procedimento, que nem sequer J. K. Rowling se atreveu a publicar, foi capaz de encerrar em um objeto (posteriormente se descobriu ser possível também em seres vivos) um fragmento de alma que impede que o restante dela se desprenda do mundo físico, mesmo que o corpo seja destruído e que se logre apenas uma indigna sobrevida. Esse procedimento é, contudo, bastante oneroso, visto que, para romper a alma, é necessário cometer um homicídio, ato extremo de maldade. Ademais, há que se considerar que uma alma debilitada pela fragmentação talvez não valha a pena, o que alguém disposto a criar uma horcrux deve certamente ignorar. O fim que receberam Voldemort e suas horcruxes é muito conhecido pela bruxidade e alguns (muitos) trouxas, já Herpo, o Sujo, sabemos que morreu há muito e teve a horcrux destruída pelo próprio basilisco.

A pedra filosofal foi o fruto de um magnífico e excelso trabalho de alquimia realizado por Nicolau Flamel. Este fascinante objeto é capaz de transformar qualquer metal em ouro e de produzir o elixir da vida, que prolonga a existência de quem o consome regular e continuamente, isto é, provavelmente impede ou retarda o envelhecimento, evitando a morte por causas naturais. É improvável, todavia, que o usuário se torne imune a enfermidades ou quaisquer outros fatores externos, como maldições imperdoáveis, por exemplo; apesar de não ser um método hediondo, quando comparado às horcruxes, não é completamente eficaz, não proporciona imortalidade rematada. Centenas de anos depois da criação da pedra e diante da temível tentativa de roubo por Voldemort, Nicolau concordou em destruí-la, e ele e Perenelle, com suas mentes já muito bem estruturadas, tendo experimentado o suficiente da vida, assim como o terceiro irmão, decidiram despir-se da imortalidade e esperar serenamente pela grande aventura seguinte.

As Relíquias da Morte, ou seja, a Capa de Invisibilidade, a Varinha das Varinhas e a Pedra da Ressurreição, têm origem incerta... Luna provavelmente diria que se trata de presentes da Morte em si, enquanto Hermione, depois de criteriosamente se certificar de sua veracidade, diria que são criações dos engenhosos e temerários irmãos Peverell. O fato é que, separadamente, as relíquias não produzem o efeito da imortalidade de forma plena, mas juntas fazem, supostamente, de quem as possui o Senhor (ou Senhora) da Morte, que é invulnerável. Não se sabe se as relíquias são mesmo capazes de tornar alguém imortal, e o fato de Harry ter sobrevivido novamente à maldição da morte, na presença dos três objetos, não esclarece esta questão, já que o sangue protegido pelo sacrifício de Lílian corria também nas veias de Voldemort, e isto manteria Harry vivo, enquanto ele também o estivesse, como explicou Dumbledore a Harry em King’s Cross. O funcionamento desses objetos não é muito claro, mas, se o efeito da imortalidade for eventualmente comprovado em um vindouro “Livro Escocês”, é possível que seja o método mais efetivo, se comparado às horcruxes ou à pedra filosofal, uma vez que não sabemos se o autossacrifício, isto é, a consciência e a voluntariedade do ato, tem alguma relação com as Relíquias da Morte. Dumbledore, porém, deixa-nos uma pista, quando afirma que o verdadeiro conquistador das relíquias é aquele que aceita a morte, que a compreende como curso natural da vida, como parte inerente à essência da humanidade e reconhece haver abominações que fazem da morte agradável lenitivo. Como digno e admirável Senhor da Morte, Harry abandona a pedra na Floresta Proibida, recoloca a varinha no túmulo de Dumbledore, esperando que, após a sua morte, ninguém mais seja capaz de dominá-la, e mantém apenas a capa, que já lhe pertencia por direito e que provavelmente será preservada através das gerações.

O desenlace das histórias envolvendo esses objetos fantásticos, seus criadores, possuidores e entusiastas revela a visão de J. K. Rowling sobre a morte, e ela é cristalina... Em busca da inalcançável sobre-humanidade, o resultado beira quase sempre a inumanidade: o mago do coração peludo que enlouquece e mata a jovem bruxa, o Lorde das Trevas de alma esquálida que nunca conheceu ou entendeu o amor, os brilhantes amigos cegos de poder e pretensamente em prol do “bem maior”, o mais velho e menos sábio irmão que matou e morreu na mesma noite... Se desejar a invulnerabilidade é típico do ser humano, dessa angústia de conhecer a própria efêmera duração; falhar em possuí-la e permanecer fugaz, transitório e, ipso facto, intenso e encantador é ainda mais intrínseco à nossa própria natureza.

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sábado, 31 de julho de 2010

Os Floreios e os Borrões de Joanne


Trinta e um de julho. Hoje é um grande dia... É a minha estreia no Da Penseira!

Tá bom, tá bom, vamos falar daquela inglesa responsável pela existência dessa bacia de pedra. O texto que segue visa estar em sintonia com a corrente #WhyILoveJK, que com sucesso homenageia a nossa diva autora que tanto estimamos.

Acalme-se, pois, você não vai se emocionar numa retrospectiva lamuriosa nem estufar o peito com a longa lista de honrarias da Sra. Rowling – a minha reflexão hoje pende para o ofício da aniversariante: a sua escrita. Portanto, se veio sorrir ou chorar, recolha seus fiapos túrgidos de pesares, não sou dessas veredas.

Você certamente sabe que a primeira obra escrita por Joanne definitivamente não foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Muito pequena, nos tempos em que lia coisas como "O Cavalinho Branco", ela se divertia escrevendo as aventuras de Coelho, o coelho!

Sempre gostou de contar história para sua irmã e garante em seu site que nem sempre precisava sentar na pobre Di para que ela prestasse atenção. Entre mudanças de endereço e colégio, enquanto esburacava carteiras com o compasso em Wyedean e se perdia em passeios noturno no Ford Anglia de Rony, ops, de Sean Harris, seu amigo de juventude a quem Câmara Secreta é dedicado, ela sempre esteve escrevendo.

Com nove anos de idade, mudou-se para Tutshill, onde morou perto de um cemitério, fonte recomendada para vários nomes recorrentes em Harry Potter. Com quinze, Rowling descobriu que sua mãe contraíra a esclerose múltipla. Não compreendia tão bem o que isso significava, observava com pavor o estado de Anne piorar lenta mas persistentemente.

Estudou Francês e Línguas Clássicas, tendo morado em Paris, onde concluiu a graduação, e em Portugal, onde deu aulas de Inglês.

A mais bem sucedida ideia de sua vida ocorreu-lhe há vinte anos, durante uma viagem atrasada de trem de volta a Londres (ela havia saído para procurar uma estadia em Manchester). Tudo simplesmente surgiu em sua cabeça e a coisa foi crescendo e se desenvolvendo em quatro horas de atraso, até que ela conseguisse uma caneta para grafar a abençoada epifania, tendo passado tempo o suficiente para que muito se esvaísse de sua genial mas ainda humana mente.

A autora nos relata que foi bom não estar com uma caneta naquele trem, pois ela haveria de diminuir o ritmo das ideias para que pudesse retê-las no papel, o que seria particularmente perigoso. Na mesma noite o primeiro livro da série Harry Potter começou a tomar forma.

Em 30 de dezembro de 1990, um dia antes do aniversário (se é que podemos chamar isto de vida) de Lorde Voldemort na saga, a morte da mãe de Joanne mudou para sempre o mundo da autora e da sua criação. Anne faleceu com apenas quarenta e cinco anos, idade que J.K completa no dia de hoje. Os sentimentos de Harry sobre seus pais mortos tornavam-se muito mais profundos, muito mais reais, enquanto a autora lutava pelas poucas horas que tinha pra escrever, posto que lecionava à tarde e à noite.

Este dia que separa Morte e Nascimento – e lembremos aqui que o nascimento de Tom advém da morte da mãe -, ao estabelecermos uma relação dos fatos, faz toda a diferença no tratamento que J.K dá às consequências da morte na saga. Harry a presencia pela primeira vez, conscientemente, em seu quarto ano, no tenebroso assassinato de Cedrico. No entanto, podemos observar um intervalo de tempo significativo para que o personagem possa 'digerir' o evento. Somente no início do próximo ano letivo Harry é capaz de ver os testrálios, quando conhece Luna, que perdera a mãe aos nove anos – idade de Rowling quando teve a primeira perda: o falecimento de sua avó paterna Kathleen.

É ousadia apontar a saga como biografia alegórica de sua criadora, como a Divina Comédia está para Dante, mas estes paralelos ajudam a explicitar o método e o processo de criação, que, em qualquer autor, escorre de forma sutil ao espremermos certos pontos de ambos os lados.

Os manuscritos de Joanne cresciam,e, após o nascimento da primeira filha, Jessica, de um relacionamento que não dera certo, ela lutou com os poucos recursos que tinha em um frenesi para a conclusão do primeiro livro Potter. Aproveitava-se do sono de Jessica para adentrar o café mais próximo e escrever loucamente. Tendo de datilografar e organizar tudo sozinha, chegou por vezes a odiar o livro, mesmo o amando. Certo dia ela o concluiu. Após várias editoras recusarem especialmente por achar um livro demasiado extenso para crianças, a Bloomsbury se interessou. Foi lançado em 1997. Cinco meses depois começou a ser premiado e imediatamente se transfigurou numa epidemia editorial que por fim contaminou o mundo inteiro.

No site da autora, podemos nos deliciar com algumas relíquias dessa história. Desvendando os segredos do site, recebemos manuscritos e desenhos antigos da concepção do mundo mágico que ela estava criando.

Muitas vezes usando uma letra absurdamente reduzida, a autora rabiscava cada centímetro de folhas velhas de caderno, borradas e manchadas com tinta de caneta, amassada pela aglomeração de pedaços da saga. No documentário “Harry Potter and Me”, temos um breve vislumbre da enorme papelada que Jo coleciona, dos quais temos acesso a míseras quinze representações.

Destas, destaca-se a planilha de Ordem da Fênix, em que ela estrutura cronologicamente os diversos acontecimentos paralelos, pela perspectiva de Snape, de Harry, da Ordem da Fênix, do Ministério, entre outros. A dimensão do conteúdo preparado é o que mais surpreende, embora seja frustrante não termos, hoje, a menor ideia de quem seria Enid Pettigrew (a mãe de Rabicho, que recebera uma Ordem de Merlim? Seria ela professora em Hogwarts?), de por que não haver uma explicação detalhada para os atributos do Dragão Português de Longo Focinho no “Animais Fantásticos & Onde Habitam” e por que Mopsus não chegou a professor, entre outros.

Os desenhos também podem ser muito intrigantes. Na ilustração da autora para o capítulo “Duelo à Meia-noite”, há um tal Gary na turma da Grifinória. Um antigo nome para Simas? Para Dino eu não creio que seja, pois no site a autora revela algo dos planos que tinha desde há muito para este.

As referências clássicas presentes a todo o momento na heptalogia são um mundo à parte, há um universo de intertexto a ser explorado, mas isso é tema para outra reflexão...

De uma coisa, por ora, podemos ter certeza: o longo processo de criação de cada um dos volumes exigiu muito trabalho e carinho, e pouco do que foi criado chega às nossas mãos. Podemos esperar ansiosamente pela Enciclopédia, devemos ter esperanças com relação ao conteúdo. Ou, nunca deixa de ser uma boa ideia, devoremos pela enésima vez os livros e extraiamos mais um pouco de cada detalhe, afinal a riqueza em Harry Potter sempre revela algo que deixamos passar.


Apêndice:

Biografia de J.K Rowling, do seu site (traduzida pelo Potterish).

Site da autora (disponível em diversos idiomas).

Documentário Harry Potter and Me (legendado pelo Potterish).

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Fim de uma Era

Não, eu não irei começar mais um daqueles textos nostálgicos sobre o fim de Harry Potter, mas este é um post que, provavelmente, trará nostalgia. Como este blog é o mais próximo de uma Penseira que eu tenho (e esse pensamento não sai da minha cabeça!), quem sabe, se eu depositá-lo aqui, eu possa começar a pensar em outra coisa.

É um vídeo. Um lindo vídeo com uma belíssima música. Já foi bastante postado lá no Twitter do @potterish, mas quero compartilhar com vocês também. Chama-se "O Fim de uma Era", é uma música da banda de wizard rock Oliver Boyd and the Remembralls.

Devo dizer que estou desidratando por conta desse vídeo... sério. Então, é isto, confira (se a legenda estiver desativada, ative-a):


P.S.: Eles têm outra ótima música, chamada "Open at the close" (Abro no Fecho), retratando a caminhada de Harry para entregar-se à morte. Veja aqui.
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje, celebramos o nobre sentimento que é a amizade

Se tem uma coisa que eu valorizo demais são meus amigos, são as amizades conquistadas. Pode parecer clichê dizer isso, mas os amigos são mesmo a família que pudemos escolher. Tenho amigos de infância, tenho boas amizades mais recentes, tenho inúmeros amigos virtuais; e sou feliz por isto. Por poder contar com eles, mesmo que eles não saibam o quanto.

Já que eu não conseguiria expressar tão bem a importância de amigos em minha vida, e poderia até soar piegas, deixo com vocês um texto bastante conhecido de Vinícius de Moraes, mas que já teve relevância em minha vida e, em minha opinião, é um dos mais belos sobre a amizade. Leia na extensão e compartilhe seus pensamentos conosco.

Este post vai especialmente para meus amigos do interior do RN (MK4), para os Aluados, para Alan Cidrão e para meus bons e loucos amigos da Armada Potterish.

P.S.: Hoje é um dia legal para você ouvir duas músicas através do nosso player ali ao lado. Ouça: Reunion of Friends, da trilha sonora de Câmara Secreta (John Williams) e The Friends, da trilha de Enigma do Príncipe (Nicholas Hooper).

Amigos
Por Vinícius de Moraes

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outro s afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.

Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.

Se todos eles morrerem, eu desabo!


Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.

E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Relato Potteriano: Visitando "O Mundo Mágico de Harry Potter"

Pelo Twitter, conheci Suzana Storolli (@Suhzana), uma das potterianas mais felizes do mundo. Digo isto porque, recentemente, Suzana teve a oportunidade de visitar o parque temático O Mundo Mágico de Harry Potter, em Orlando, Estados Unidos, juntamente com sua mãe, Ângela, e suas amigas, Brenda e Ana Paula.

Nós acompanhamos as notícias sobre o parque, desde os rumores até as festividades de inauguração, mas nada melhor do que o relato de quem já esteve lá para sentirmos a magia que o ambiente proporciona.

Na extensão do post, as impressões de Suzana sobre o parque de Harry Potter, o mundo mágico que nós trouxas podemos visitar. Clique nas fotos para vê-las em tamanho maior.

RELATO POTTERIANO - VISITA AO MUNDO MÁGICO DE HARRY POTTER
Por Suzana Storolli

Nova atração Harry Potter no parque Universal Islands of Adventure. Eu via fotos do parque quase terminado, lia revistas, pesquisava na internet, mas nada expressou o que senti quando entrei naquele mundo mágico.

Um portal para recepcionar os primeiros visitantes e, logo, o Hogwarts Express com o maquinista dando boas vindas. De tempos em tempos, o trem soltava fumaça para dar mais realidade ao mundo. Todos os lugares do parque tocavam músicas do filme, e tudo ao meu redor era especialmente projetado por J. K. Rowling, cada telhado tinha um toque de inverno, com neve artificial.

O parque só tem uma rua, e na entrada já encontramos a tão famosa cerveja amanteigada. Uma fila para comprar, claro! Mas até que pequena, porque era um dia de chuva, que espantou muitos fãs. Uma sexta-feira, dia 02 de julho, fui com minha mãe e duas amigas experimentar logo de cara, a bebida. É bem doce! E respondendo às muitas mensagens, tem gosto de sorvete de creme com chantili. Mas não tinha só uma opção de cerveja não... Tinha também a frozen, que achei bem melhor porque era com pedaços de gelo, como se fosse uma raspadinha de creme. Adorei!

Depois de experimentar a bebida, fomos na montanha russa Dragon Challenge. Eram duas em um brinquedo só, representando dois dragões, um vermelho e outro azul.

De frente para o Butterbeer tinha a loja de doces, onde encontramos os feijõezinhos de todos os sabores, balas de todas as cores e formatos, sempre com duendes sorridentes na equipe. Ao lado vimos o restaurante “Três Vassouras”, que faz o cliente ter a sensação de que a qualquer hora o Harry Potter vai aparecer por lá. Bebidas naturais, com o estilizado copo Harry Potter, milho, frango, porção, suco de abóbora, e à noite vi até sombra de coruja lá dentro. No almoço comemos peixe coberto com uma massa de milho, limonada e milho cozido, com gosto adocicado, muito bom! E no jantar, comemos mais milho, e batata assada (toda comida muito natural, nem refrigerante tinha pra comprar!).

Até os banheiros da atração possuem a voz de Murta de fundo!

Quando entrei no castelo de Hogwarts, tudo era perfeitamente igual ao que imaginamos nos livros e vemos nos filmes. Logo no começo, tinha alguns armários que você pode colocar as bolsas e identificar com sua digital e aproveitar melhor a atração. Depois você entra na fila e espera apreciando as estufas de Herbologia.

Hora de entrar de verdade no Castelo e conhecer as réplicas mais perfeitas, quadros que falam, projeção e sala de Dumbledore e uma torre com projeção do Harry, Hermione e Rony. Você anda pelos escuros corredores, com vozes ao fundo, e muito mistério!

Depois a gente chega na parte da aventura da “Jornada Proibida”. É um carrinho com 4 lugares (nomeado de atração da família), tem até lugar para guardar a câmera e objetos que podem cair. A gente literalmente entra no jogo de quadribol, e acompanha o Harry e seus amigos na partida, e a fugir de elementos do mal. O brinquedo vira pra trás, de lado, faz você entrar na história mostrando algumas partes com filme, e outras com objetos gigantes e reais. Até jogam água, como participação da aranha do filme. No final, quando ganhamos a partida, todo elenco do filme nos parabeniza pela vitória. É emocionante!

E na saída do castelo está a montanha russa do Hipogrifo, que desce em espiral e mergulha ao redor de uma plantação de abóboras. Durante a fila do brinquedo, você vê a cabana de Hagrid, o Ford Anglia voador do Sr. Weasley, e ouve até o barulho do grilo para dar mais emoção. No meio daquela alegria toda de fãs e curiosos, vimos uma equipe de televisão gravando, e um ator mirim encenando para eles. Não conseguimos ver para qual país era, tamanha quantidade de gente em volta.

Ah, e também tem as lojas... Peguei mais de uma hora de fila para a loja mais aguardada, onde vendem as roupas oficiais, a varinha de cada personagem, canecas, gravatas, bonecos, coruja de pelúcia e tudo que você imaginar. Na saída tinha um duende com carimbo oficial para cada postal. Entre outras lojas, tinha também alguns lugares fechados com livros e objetos diferentes, que dava a impressão de estar dentro do filme. Muitos fãs caracterizados de Harry, Hermione e tantos outros personagens, muito divertido.

Em horários alternativos, tinham 2 apresentações musicais. A Frog Choir, um coral de alunos de Hogwarts acompanhados de enormes sapos, e o Triwizard Spirit Rally, um desfile de alunos de Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang, do Torneio Tribruxo.

Ao anoitecer, o castelo fica a coisa mais linda, e se parece mais ainda com o Hogwarts original.

Não deu vontade de sair de lá, quis aproveitar cada minuto precioso deste lugar mágico e cheio de novidades!

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