sábado, 31 de julho de 2010

Os Floreios e os Borrões de Joanne


Trinta e um de julho. Hoje é um grande dia... É a minha estreia no Da Penseira!

Tá bom, tá bom, vamos falar daquela inglesa responsável pela existência dessa bacia de pedra. O texto que segue visa estar em sintonia com a corrente #WhyILoveJK, que com sucesso homenageia a nossa diva autora que tanto estimamos.

Acalme-se, pois, você não vai se emocionar numa retrospectiva lamuriosa nem estufar o peito com a longa lista de honrarias da Sra. Rowling – a minha reflexão hoje pende para o ofício da aniversariante: a sua escrita. Portanto, se veio sorrir ou chorar, recolha seus fiapos túrgidos de pesares, não sou dessas veredas.

Você certamente sabe que a primeira obra escrita por Joanne definitivamente não foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Muito pequena, nos tempos em que lia coisas como "O Cavalinho Branco", ela se divertia escrevendo as aventuras de Coelho, o coelho!

Sempre gostou de contar história para sua irmã e garante em seu site que nem sempre precisava sentar na pobre Di para que ela prestasse atenção. Entre mudanças de endereço e colégio, enquanto esburacava carteiras com o compasso em Wyedean e se perdia em passeios noturno no Ford Anglia de Rony, ops, de Sean Harris, seu amigo de juventude a quem Câmara Secreta é dedicado, ela sempre esteve escrevendo.

Com nove anos de idade, mudou-se para Tutshill, onde morou perto de um cemitério, fonte recomendada para vários nomes recorrentes em Harry Potter. Com quinze, Rowling descobriu que sua mãe contraíra a esclerose múltipla. Não compreendia tão bem o que isso significava, observava com pavor o estado de Anne piorar lenta mas persistentemente.

Estudou Francês e Línguas Clássicas, tendo morado em Paris, onde concluiu a graduação, e em Portugal, onde deu aulas de Inglês.

A mais bem sucedida ideia de sua vida ocorreu-lhe há vinte anos, durante uma viagem atrasada de trem de volta a Londres (ela havia saído para procurar uma estadia em Manchester). Tudo simplesmente surgiu em sua cabeça e a coisa foi crescendo e se desenvolvendo em quatro horas de atraso, até que ela conseguisse uma caneta para grafar a abençoada epifania, tendo passado tempo o suficiente para que muito se esvaísse de sua genial mas ainda humana mente.

A autora nos relata que foi bom não estar com uma caneta naquele trem, pois ela haveria de diminuir o ritmo das ideias para que pudesse retê-las no papel, o que seria particularmente perigoso. Na mesma noite o primeiro livro da série Harry Potter começou a tomar forma.

Em 30 de dezembro de 1990, um dia antes do aniversário (se é que podemos chamar isto de vida) de Lorde Voldemort na saga, a morte da mãe de Joanne mudou para sempre o mundo da autora e da sua criação. Anne faleceu com apenas quarenta e cinco anos, idade que J.K completa no dia de hoje. Os sentimentos de Harry sobre seus pais mortos tornavam-se muito mais profundos, muito mais reais, enquanto a autora lutava pelas poucas horas que tinha pra escrever, posto que lecionava à tarde e à noite.

Este dia que separa Morte e Nascimento – e lembremos aqui que o nascimento de Tom advém da morte da mãe -, ao estabelecermos uma relação dos fatos, faz toda a diferença no tratamento que J.K dá às consequências da morte na saga. Harry a presencia pela primeira vez, conscientemente, em seu quarto ano, no tenebroso assassinato de Cedrico. No entanto, podemos observar um intervalo de tempo significativo para que o personagem possa 'digerir' o evento. Somente no início do próximo ano letivo Harry é capaz de ver os testrálios, quando conhece Luna, que perdera a mãe aos nove anos – idade de Rowling quando teve a primeira perda: o falecimento de sua avó paterna Kathleen.

É ousadia apontar a saga como biografia alegórica de sua criadora, como a Divina Comédia está para Dante, mas estes paralelos ajudam a explicitar o método e o processo de criação, que, em qualquer autor, escorre de forma sutil ao espremermos certos pontos de ambos os lados.

Os manuscritos de Joanne cresciam,e, após o nascimento da primeira filha, Jessica, de um relacionamento que não dera certo, ela lutou com os poucos recursos que tinha em um frenesi para a conclusão do primeiro livro Potter. Aproveitava-se do sono de Jessica para adentrar o café mais próximo e escrever loucamente. Tendo de datilografar e organizar tudo sozinha, chegou por vezes a odiar o livro, mesmo o amando. Certo dia ela o concluiu. Após várias editoras recusarem especialmente por achar um livro demasiado extenso para crianças, a Bloomsbury se interessou. Foi lançado em 1997. Cinco meses depois começou a ser premiado e imediatamente se transfigurou numa epidemia editorial que por fim contaminou o mundo inteiro.

No site da autora, podemos nos deliciar com algumas relíquias dessa história. Desvendando os segredos do site, recebemos manuscritos e desenhos antigos da concepção do mundo mágico que ela estava criando.

Muitas vezes usando uma letra absurdamente reduzida, a autora rabiscava cada centímetro de folhas velhas de caderno, borradas e manchadas com tinta de caneta, amassada pela aglomeração de pedaços da saga. No documentário “Harry Potter and Me”, temos um breve vislumbre da enorme papelada que Jo coleciona, dos quais temos acesso a míseras quinze representações.

Destas, destaca-se a planilha de Ordem da Fênix, em que ela estrutura cronologicamente os diversos acontecimentos paralelos, pela perspectiva de Snape, de Harry, da Ordem da Fênix, do Ministério, entre outros. A dimensão do conteúdo preparado é o que mais surpreende, embora seja frustrante não termos, hoje, a menor ideia de quem seria Enid Pettigrew (a mãe de Rabicho, que recebera uma Ordem de Merlim? Seria ela professora em Hogwarts?), de por que não haver uma explicação detalhada para os atributos do Dragão Português de Longo Focinho no “Animais Fantásticos & Onde Habitam” e por que Mopsus não chegou a professor, entre outros.

Os desenhos também podem ser muito intrigantes. Na ilustração da autora para o capítulo “Duelo à Meia-noite”, há um tal Gary na turma da Grifinória. Um antigo nome para Simas? Para Dino eu não creio que seja, pois no site a autora revela algo dos planos que tinha desde há muito para este.

As referências clássicas presentes a todo o momento na heptalogia são um mundo à parte, há um universo de intertexto a ser explorado, mas isso é tema para outra reflexão...

De uma coisa, por ora, podemos ter certeza: o longo processo de criação de cada um dos volumes exigiu muito trabalho e carinho, e pouco do que foi criado chega às nossas mãos. Podemos esperar ansiosamente pela Enciclopédia, devemos ter esperanças com relação ao conteúdo. Ou, nunca deixa de ser uma boa ideia, devoremos pela enésima vez os livros e extraiamos mais um pouco de cada detalhe, afinal a riqueza em Harry Potter sempre revela algo que deixamos passar.


Apêndice:

Biografia de J.K Rowling, do seu site (traduzida pelo Potterish).

Site da autora (disponível em diversos idiomas).

Documentário Harry Potter and Me (legendado pelo Potterish).

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Fim de uma Era

Não, eu não irei começar mais um daqueles textos nostálgicos sobre o fim de Harry Potter, mas este é um post que, provavelmente, trará nostalgia. Como este blog é o mais próximo de uma Penseira que eu tenho (e esse pensamento não sai da minha cabeça!), quem sabe, se eu depositá-lo aqui, eu possa começar a pensar em outra coisa.

É um vídeo. Um lindo vídeo com uma belíssima música. Já foi bastante postado lá no Twitter do @potterish, mas quero compartilhar com vocês também. Chama-se "O Fim de uma Era", é uma música da banda de wizard rock Oliver Boyd and the Remembralls.

Devo dizer que estou desidratando por conta desse vídeo... sério. Então, é isto, confira (se a legenda estiver desativada, ative-a):


P.S.: Eles têm outra ótima música, chamada "Open at the close" (Abro no Fecho), retratando a caminhada de Harry para entregar-se à morte. Veja aqui.
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje, celebramos o nobre sentimento que é a amizade

Se tem uma coisa que eu valorizo demais são meus amigos, são as amizades conquistadas. Pode parecer clichê dizer isso, mas os amigos são mesmo a família que pudemos escolher. Tenho amigos de infância, tenho boas amizades mais recentes, tenho inúmeros amigos virtuais; e sou feliz por isto. Por poder contar com eles, mesmo que eles não saibam o quanto.

Já que eu não conseguiria expressar tão bem a importância de amigos em minha vida, e poderia até soar piegas, deixo com vocês um texto bastante conhecido de Vinícius de Moraes, mas que já teve relevância em minha vida e, em minha opinião, é um dos mais belos sobre a amizade. Leia na extensão e compartilhe seus pensamentos conosco.

Este post vai especialmente para meus amigos do interior do RN (MK4), para os Aluados, para Alan Cidrão e para meus bons e loucos amigos da Armada Potterish.

P.S.: Hoje é um dia legal para você ouvir duas músicas através do nosso player ali ao lado. Ouça: Reunion of Friends, da trilha sonora de Câmara Secreta (John Williams) e The Friends, da trilha de Enigma do Príncipe (Nicholas Hooper).

Amigos
Por Vinícius de Moraes

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outro s afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.

Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.

Se todos eles morrerem, eu desabo!


Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.

E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Relato Potteriano: Visitando "O Mundo Mágico de Harry Potter"

Pelo Twitter, conheci Suzana Storolli (@Suhzana), uma das potterianas mais felizes do mundo. Digo isto porque, recentemente, Suzana teve a oportunidade de visitar o parque temático O Mundo Mágico de Harry Potter, em Orlando, Estados Unidos, juntamente com sua mãe, Ângela, e suas amigas, Brenda e Ana Paula.

Nós acompanhamos as notícias sobre o parque, desde os rumores até as festividades de inauguração, mas nada melhor do que o relato de quem já esteve lá para sentirmos a magia que o ambiente proporciona.

Na extensão do post, as impressões de Suzana sobre o parque de Harry Potter, o mundo mágico que nós trouxas podemos visitar. Clique nas fotos para vê-las em tamanho maior.

RELATO POTTERIANO - VISITA AO MUNDO MÁGICO DE HARRY POTTER
Por Suzana Storolli

Nova atração Harry Potter no parque Universal Islands of Adventure. Eu via fotos do parque quase terminado, lia revistas, pesquisava na internet, mas nada expressou o que senti quando entrei naquele mundo mágico.

Um portal para recepcionar os primeiros visitantes e, logo, o Hogwarts Express com o maquinista dando boas vindas. De tempos em tempos, o trem soltava fumaça para dar mais realidade ao mundo. Todos os lugares do parque tocavam músicas do filme, e tudo ao meu redor era especialmente projetado por J. K. Rowling, cada telhado tinha um toque de inverno, com neve artificial.

O parque só tem uma rua, e na entrada já encontramos a tão famosa cerveja amanteigada. Uma fila para comprar, claro! Mas até que pequena, porque era um dia de chuva, que espantou muitos fãs. Uma sexta-feira, dia 02 de julho, fui com minha mãe e duas amigas experimentar logo de cara, a bebida. É bem doce! E respondendo às muitas mensagens, tem gosto de sorvete de creme com chantili. Mas não tinha só uma opção de cerveja não... Tinha também a frozen, que achei bem melhor porque era com pedaços de gelo, como se fosse uma raspadinha de creme. Adorei!

Depois de experimentar a bebida, fomos na montanha russa Dragon Challenge. Eram duas em um brinquedo só, representando dois dragões, um vermelho e outro azul.

De frente para o Butterbeer tinha a loja de doces, onde encontramos os feijõezinhos de todos os sabores, balas de todas as cores e formatos, sempre com duendes sorridentes na equipe. Ao lado vimos o restaurante “Três Vassouras”, que faz o cliente ter a sensação de que a qualquer hora o Harry Potter vai aparecer por lá. Bebidas naturais, com o estilizado copo Harry Potter, milho, frango, porção, suco de abóbora, e à noite vi até sombra de coruja lá dentro. No almoço comemos peixe coberto com uma massa de milho, limonada e milho cozido, com gosto adocicado, muito bom! E no jantar, comemos mais milho, e batata assada (toda comida muito natural, nem refrigerante tinha pra comprar!).

Até os banheiros da atração possuem a voz de Murta de fundo!

Quando entrei no castelo de Hogwarts, tudo era perfeitamente igual ao que imaginamos nos livros e vemos nos filmes. Logo no começo, tinha alguns armários que você pode colocar as bolsas e identificar com sua digital e aproveitar melhor a atração. Depois você entra na fila e espera apreciando as estufas de Herbologia.

Hora de entrar de verdade no Castelo e conhecer as réplicas mais perfeitas, quadros que falam, projeção e sala de Dumbledore e uma torre com projeção do Harry, Hermione e Rony. Você anda pelos escuros corredores, com vozes ao fundo, e muito mistério!

Depois a gente chega na parte da aventura da “Jornada Proibida”. É um carrinho com 4 lugares (nomeado de atração da família), tem até lugar para guardar a câmera e objetos que podem cair. A gente literalmente entra no jogo de quadribol, e acompanha o Harry e seus amigos na partida, e a fugir de elementos do mal. O brinquedo vira pra trás, de lado, faz você entrar na história mostrando algumas partes com filme, e outras com objetos gigantes e reais. Até jogam água, como participação da aranha do filme. No final, quando ganhamos a partida, todo elenco do filme nos parabeniza pela vitória. É emocionante!

E na saída do castelo está a montanha russa do Hipogrifo, que desce em espiral e mergulha ao redor de uma plantação de abóboras. Durante a fila do brinquedo, você vê a cabana de Hagrid, o Ford Anglia voador do Sr. Weasley, e ouve até o barulho do grilo para dar mais emoção. No meio daquela alegria toda de fãs e curiosos, vimos uma equipe de televisão gravando, e um ator mirim encenando para eles. Não conseguimos ver para qual país era, tamanha quantidade de gente em volta.

Ah, e também tem as lojas... Peguei mais de uma hora de fila para a loja mais aguardada, onde vendem as roupas oficiais, a varinha de cada personagem, canecas, gravatas, bonecos, coruja de pelúcia e tudo que você imaginar. Na saída tinha um duende com carimbo oficial para cada postal. Entre outras lojas, tinha também alguns lugares fechados com livros e objetos diferentes, que dava a impressão de estar dentro do filme. Muitos fãs caracterizados de Harry, Hermione e tantos outros personagens, muito divertido.

Em horários alternativos, tinham 2 apresentações musicais. A Frog Choir, um coral de alunos de Hogwarts acompanhados de enormes sapos, e o Triwizard Spirit Rally, um desfile de alunos de Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang, do Torneio Tribruxo.

Ao anoitecer, o castelo fica a coisa mais linda, e se parece mais ainda com o Hogwarts original.

Não deu vontade de sair de lá, quis aproveitar cada minuto precioso deste lugar mágico e cheio de novidades!

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domingo, 11 de julho de 2010

O Poder Dominado: Do Um Anel a Varinha das Varinhas

Mais uma vez estou aqui para dividir alguns dos meus rodopiantes pensamentos com vocês. Esse tema me encanta profundamente e acho que existem inúmeras maneiras e exemplos possíveis ao se abordá-lo. O que só comprova minha tese de que as discussões sobre Harry Potter são infinitas, algo que me alegra, pois dará “vida longa e próspera” ao nosso fandom. Esse texto é um daqueles onde exponho muito do que minha mente confusa pensa sobre o mundo e gostaria de saber qual a visão de vocês sobre todas essas questões e se é, apenas a mim, que elas parecem angustiantes.
Boa leitura e não deixem de comentar!

PS: A fanart que usei na postagem vocês encontram no TLC.



Por Paty Moreira

O título deste texto pode parecer estranho, pois os objetos com que exemplifiquei este “poder dominado” são, na verdade, dominadores por natureza, mas neste texto analisarei uma questão que me parece estar intimamente relacionada nas séries “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”: a busca pelo poder. E não apenas a busca em si, mas a forma como somos escravos do poder, como nosso poder é dominado por nossa vontade de dominar. Creio que essa introdução não foi nada clara, mas aos poucos, espero, chegaremos a algum lugar.

Essas relações com o poder que aparecem em ambas as sagas estão ligadas fundamentalmente a dois personagens (excluirei os vilões nesta análise). Em “Harry Potter”, usarei apenas o protagonista, e na saga de Tolkien, falaremos de Tom Bombadil. Ambos são bons, lidam com o poder, mas não se deixam dominar por ele, o oposto da maioria de nós, e talvez por isso, eles dominem.

Tom Bombadil é uma das personagens mais discutidas pelos fãs da obra de Tolkien, pois ele não se encaixa no perfil de nenhum personagem específico da saga, sendo impossível descrevê-lo como Hobbit, Homem, Anão, Elfo, um espírito da natureza, Aulë ou o próprio Eru Ilúvatar. Não entrarei nos motivos que tratam de tal impossibilidade, pois não é o foco da analise, mas indico este artigo para maiores detalhes. O que importa saber é que Tom não é uma criatura classificada na saga e isso é extremamente relevante para compreendê-lo. O alegre Tom também é aquele que toca o Um Anel sem ser influenciado por seu poder, que pode enxergar Frodo quando este usa o anel para ficar invisível, “Ele é” como diz Fruta D’Ouro, mas não domina, pois “As árvores e o capim e todas as coisas que crescem ou vivem neste lugar só pertencem a si mesmas. Tom Bombadil é o Senhor”.

Tolkien criou o oposto do ideal da modernidade - que nos faz ignorar os sentimentos e controlar tudo de forma racional - Tom Bombadil é o desejo do puro conhecimento, ele é o Senhor, tem o poder, mas sabe que cada coisa existe com um propósito particular que não lhe dá o direito de dominar. Ele não é escravo do poder, não se deixa controlar pelo desejo de dominação, é uma alma livre e espirituosa, que tudo conhece e nada tem, e por isso não é afetado pelo anel, uma vez que o “Anel do Poder” para “todos trazer e na escuridão aprisioná-los” precisa de reféns que façam dele poderoso, seres que sejam escravos do desejo de conhecer e dominar. Tom é um aliado do poder do conhecimento e o anel nunca poderia alcançá-lo.

A relação de Tom Bombadil com o poder é clara, Tolkien já disse em cartas que ele é apenas um parêntese na história, indecifrável, no entanto, alguém que nos dá uma lição valiosíssima. J.K. Rowling não falou tão claramente sobre os propósitos de Harry, mas deixou pistas que usarei para tentar expor meu ponto de vista sobre o assunto, lembrando que esta é uma hipótese e não uma certeza quanto aos intentos da autora.

Parece-me que Harry lida com o poder de forma semelhante com a de Tom. O poder a que me refiro em Harry Potter são as Relíquias da Morte, especificamente a Varinha das Varinhas. Harry, assim como Tom, é o Senhor, conquista o direito e a lealdade desses objetos que seriam um sonho para todos nós. Dumbledore deixa bem claro o motivo que faz de Harry o “digno possuidor das Relíquias” e esse motivo, a meu ver, é a forma como Harry lida com o poder, ele é um líder nato e não deseja a liderança (como costuma acontecer com os verdadeiros líderes), espera viver em paz e não está à procura de glórias. Harry domina porque merece e sabe que não é dono de nada.

Quando Rony se impressiona por Harry dizer que não ficará com a varinha, ele simplesmente responde “A varinha não vale a confusão que provoca”. No momento em que está consertando sua varinha antiga, temos mais uma fala do digno dominador: “Eu sei que é poderosa, mas eu era mais feliz com a minha”. O protagonista da saga de Rowling está preocupado com a felicidade e não com o poder, isso o motiva antes de todas as coisas e é o que lhe dá poder, fazendo de Harry alguém tão livre quanto Tom, capaz de se sacrificar pelo próximo e não se deixar escravizar por aquilo que supostamente devemos desejar.

São personagens movidos essencialmente por sentimento, algo que me parece ser o grande aliado da verdadeira liberdade. Em análise aos Contos de Beedle, Dumbledore diz que “os humanos têm um pendor para escolher precisamente as coisas que lhes fazem mal” e que a moral do conto não poderia ser mais clara: “os esforços humanos para evadir ou superar a morte estão sempre fadados ao desapontamento”. A morte é apenas um dos inúmeros conhecimentos que estamos fadados a nunca compreender totalmente e em nossa sede de encontrar a verdade para dominar, escolhemos aquilo que nos faz mal, nos perdemos em conceitos e lógica e não vivemos plenamente.

Vejo uma mensagem muito importante nesses dois personagens, que me faz pensar sobre como somos dominados pelo poder e não conseguimos dominar nada. Temos tanta necessidade de conhecer plenamente, de encontrar respostas e controlar tudo, que perdemos o caminho do verdadeiro poder e conhecimento. Parece que a maioria de nós não consegue entender as escolhas de Tom e Harry, não podemos viver fora dos padrões “racionais”, somos o povo da “Liberdade, Igualdade e Progresso”, presos em conceitos que não explicam a necessidade de desigualdade, as especificidades de cada um e não enxergamos que o progresso não existe como um fim imediato, pois cada indivíduo tem seus próprios valores e sonhos que levam a progressos diferentes, e no meio de tanta busca e racionalidade não entendemos mais o que é liberdade.

Para mim é uma grande lição, não sei se intencional, no caso de Harry, mas sem dúvida no caso de Tom Bombadil, é algo que me faz refletir e me tira muitas noites de sono. Não sei como resolver o problema, não acho que todos podem ser como esses personagens, existe algo na liberdade deles que me escapa a imitação. Sei apenas que o mundo como está hoje é estranho e dominado, que a escravidão existe em nossos intelectos e isso me assusta, pois não vejo solução melhor. Refém do controle é o que somos, mas talvez chegue o dia em que seremos puramente dominadores e aliados como Harry e Tom. Espero, apenas, que esteja no caminho certo para essa conquista.

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sábado, 10 de julho de 2010

Nascimento


Olá, pessoal!

Primeiro, gostaria de agradecer pelos ótimos pensamentos em nossos textos, é um orgulho ter visitantes tão incríveis como vocês e acho que já estava na hora de agradecer.
Mas indo direto ao assunto, a maioria de nossos posts até o momento foram críticos e resolvemos postar algo mais leve para variar um pouco. É com prazer que anunciamos nossa primeira fanfic!
A ideia é que sejam fics em formato oneshot ou algo parecido, não muito longo para que vocês possam acompanhar da mesma forma que fazem com as colunas. Esse primeiro texto talvez seja conhecido de alguns, e foi escrito por uma potteriana muito querida no fandom, Marina Anderi e gostaríamos de agradecê-la pela colaboração.
Espero que vocês gostem da novidade e se houver alguém aí com esse talento incrível que queira dividi-lo conosco, mande suas fanfics para dapenseira@gmail.com. E antes que esqueça, a imagem usada nesta postagem é de Karmypu e vocês encontram no deviantart.

Sem mais delongas, confiram o texto da Marina na extensão!



Nascimento
Marina Anderi

Harry andava de um lado para o outro no corredor do St. Mungus.

- Cara, assim você vai furar o chão! – Disse Rony, sentado em uma cadeira.

- Rony, cala a boca, por favor – Disse Harry.

- Eu estou tentando ajudar, Harry. Senta, bebe uma água aê, relaxa.

- Não dá! Eu estou aqui há horas e nenhum curandeiro veio me falar nada!

Uma mulher de cabelos e olhos igualmente castanhos adentrou no corredor do hospital.

- Ai, Harry, desculpe a demora, é que as coisas no Ministério, pelo menos no meu departamento, estavam cheias – Disse Hermione, abraçando Harry – Como está Ginny?

- Sr. Potter? – Falou uma enfermeira.

- Sim? – Respondeu Harry.

- Nós, do St. Mungus, lamentamos lhe informar que a Sra. Potter morreu.

- Ãh? Que? Deve ter sido um engano, não pode ser!

A enfermeira começou a vasculhar os papéis presos em sua prancheta enquanto Harry se derramava em lágrimas.

- Ah! – Exclamou a enfermeira – Foi um engano mesmo, quem morreu foi a mulher do Sr. Pinnor... Desculpe o incômodo – E saiu do corredor.

- Bom, Mione, acho que a Ginny está bem – Disse Rony. Mione deu-lhe um tapa – Ai! Por que isso?

- Porque uma louca chega e diz que a Ginny morreu, minutos depois diz que foi engano. Meio traumatizante pra fazer brincadeira, neah? – Respondeu ela.

Harry lavou seu rosto a mando de Hermione e voltou a andar de um lado para o outro.

- Iiiiiiiiiiiiii, voltamos a estaca zero – Falou Rony.

Uma hora, dez minutos e cinquenta e sete segundos depois...

- Eu vou explodir! Se eu ficar mais um minuto sem notícias da minha esposa, eu invado o quarto dela! – Avisou Harry.

Nove segundos depois...

- Eu vou invadir o quarto dela! – Anunciou Harry.

- Cara, passaram-se nove segundos, não um minuto. E além do mais, Ginny está tendo um filho seu, não é como se ela tivesse sido atingida por um Sectusempra! – Falou Rony.

- É Harry, O Rony está certo – Disse Hermione – O parto pode demorar, segundo a Sra. Weasley, o parto de Percy durou exatas vinte horas.

- VINTE HORAS? Eu não vou conseguir aguentar vinte horas! Estou aqui há cinco! Eles pelo menos podiam me avisar como Ginny está, de preferência sem mandar uma enfermeira de merda dizer que ela está morta, me matar do coração e depois dizer que foi engano!

- Sr. Potter? – Disse o curandeiro.

- Senta que lá vem história – Sussurrou Rony para Hermione, que sorriu.

Harry se dirigiu até o homem de jaleco branco e disse:

- Diga, doutor.

- Seu filho acabou de nascer. Um lindo e saudável menino. Gostaria de vê-lo?

- CLARO!

A moça da recepção fez um "Shiii", mas Harry nem ligou, saiu correndo pra o quarto em que Ginny estava.

Ela chegou lá ofegante pela corrida.

- Hey, calma, Harry Relaxa, conta até dez: um, dois, três... Agora continua que eu to com preguiça – Disse Ginny.

Harry sorriu, sua respiração voltando ao normal.

Ginny estava deitada na cama, os fios de cabelos ruivos grudados em seu corpo por causa do suor. "Linda" pensou Harry "como sempre". Nos braços ela tinha um cobertor azul, onde um bebê estava acomodado.

- Vai ficar com essa cara de bobo ou vai vir conhecer seu filho? – Perguntou Ginny, tirando Harry de seus devaneios.

Ele se aproximou em passos lentos até a esposa. O bebê no colo dela era ruivinho.

- Ele não tem nada a ver comigo – Comentou.

- Verdade – O bebê abriu os olhos – Olá, James. Diga oi para o papai.

Os olhos castanhos de James foram até seu pai.

- Eu posso... Pegar ele?

- Que pergunta, harry. Claro que pode!

Harry pegou seu filho no colo. A sensação foi de muita felicidade.

- Eu gostaria de mudar o nome dele – Avisou.

- Sinto muito, acho que ele já atende por esse nome – Argumentou Ginny.

- Não, só vou acrescentar. James Sirius, o que acha?

- Bonito... James Sirius Potter, bem-vindo a família.

Ficaram paparicando o pequeno James, até que a enfermeira chegou e disse que Harry teria de sair do quarto em cinco minutos, pois Ginny e o bebê precisavam descansar.

- Obrigado – Disse Harry.

- Pelo que? – Falou Ginny.

- Por me dar a família que eu nunca tive. Eu te amo, muito.

- Eu também.

Deram um beijo profundo, só pararam por causa de James.

- Quando você sai do resguardo, mesmo? – Perguntou Harry.

Ginny riu.

- Sinto muito, quarenta dias.

- Pena... Bom, então eu vou ligar pra Cho Chang!

- Harry. James. Potter. Sou casada com você, mas ainda tenho muito irmãos...

- Acho que foi isso que me atraiu em você, eu amo perigo.

Dito isso, Harry saiu correndo do quarto. Uma coisa que aprendeu sobre sua esposa em seus anos de casamento, foi que com Ginny, não se brinca.

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Lia Wyler e a Tradução de Harry Potter


Os cinco membros da equipe se encontravam bastante ocupados com faculdade ou coisas da vida pessoal, mas agora que alguns estão entrando de férias, a frequência de posts voltará ao normal. Estamos de volta! Dessa vez, trago um texto sobre as traduções de HP, ou melhor, sobre a tradutora de HP e sua genialidade. Na coluna, falo de Lia como a típica "Lia-lover" que sou, porém tentando manter um olhar crítico (ainda que falhado, pois meu propósito não foi analisar a tradução, e sim abordar justamente as qualidades de Wyler como tradutora) para também dizer o que gostaria que fosse melhorado. Espero comentários de todos!


Uma das mais antigas polêmicas que giram em torno da série Harry Potter, pelo menos entre os fãs brasileiros, é a tradução feita por Lia Wyler: Enquanto muitos odeiam, poucos amam (e devo dizer que estou incluída neste grupo) e outra parcela se encontra indiferente.

Em vez de listar cada falha e acerto, porém, decidi "inovar" um pouquinho e fugir ao padrão dos textos que criticam as versões brasileiras dos livros, e falar porque aprecio tanto estas, falando do bom e do ruim como conseqüencia. Pois bem. Como alguns notaram, pela coluna anterior, gosto de utilizar definições exatas de dicionários, e, dessa vez, não será diferente: O texto será introduzido com o significado de tradução, para evitar possíveis equívocos decorrentes da ignorância provinda de alguns:

"Tradução é uma atividade que abrange a interpretação do significado de um texto em uma língua — o texto fonte — e a produção de um novo texto em outra língua mas que exprima o texto original da forma mais exata possível na língua destino; O texto resultante também se chama tradução."

Conforme destacado em negrito acima, "mas que exprima o texto original da forma mais exata possível", portanto isso nos leva a concluir que, inevitavelmente, ocorre uma adaptação, afinal o texto deve estar o mais parecido possível com o original e há centenas de jogos de palavras e piadas que, traduzidos da maneira literal, perdem o sentido. No caso de palavras inventadas, como "Muggle", os nomes das quatro casas de Hogwarts, "Quidditch" e - muitos - outros, digo o mesmo. Convenhamos que é muito mais interessante ler os "abrasileiramentos" de Lia do que as palavras que, apesar de soarem interessantes em países de língua inglesa, seriam incompreensíveis para os leitores daqui!

Se procurarmos um pouco sobre a tradução de HP de cada país, veremos que apenas a nossa possui adaptações como "Quadribol", "Grifinória", "Lufa-Lufa", "Sonserina" e "Corvinal", e mesmo que alguns fãs as odeiem do fundo da alma, optando até mesmo por utilizar os termos originais, eu as defendo e faço questão de usá-las, simplesmente pela genialidade e cuidado empregados por Wyler na hora de escolher cada um, e singularidade e riqueza acrescentadas à obra traduzida. "Bichento" (de "Crookshanks") é um excelente, e talvez o maior, exemplo disso, uma vez vemos traços da cultura brasileira na palavra - que é usada em determinada região do país para designar pessoas com pernas tortas -.

Na minha opinião, entre os pontos fortes de Lia estão Bichento (motivo já citado) e as casas Sonserina - talvez uma mistura de sonso e ferino - e Lufa-lufa, cuja definição no dicionário consta "agitação", característica vista em muitos membros da casa. Os nomes dos Marotos (e também o próprio nome do grupo, naturalmente), em especial Rabicho, também merecem destaque. Também é válido mencionar que o original, "Wormtail", é uma junção das palavras "worm" (verme) e "tail" (cauda). Para traduzir uma palavra com essa, é necessário saber o significado de ambas, para, enfim, juntá-las inteligentemente e criar apenas uma. Também é o caso de Grampo (grip e hook, que formam Griphook) e as "buck" e "beak" do Bicuço inglês, Buckbeak. Negativamente, eu ressalto a substituição dos "us" por "o", como em Albus/Alvo, Severus/Severo e Remus/Remo, além da permanência de Sirius. Segundo a lógica, seria coerente termos um Sírio, e, mesmo que prefira os nomes originais, sou a favor de um padrão.

Uma das críticas mais fortes por parte dos fãs vem do Apagueiro/Desiluminador, e eu diria que essa é a única que de fato me irrita, pelo simples motivo de que, nos livros em inglês, realmente temos dois termos distintos. E a explicação é bem óbvia, na verdade: No primeiro livro da série, não sabemos o nome do objeto por estarmos apenas observando a cena (pois Harry ainda é um bebê e nem se encontra presente na mesma), e ele é denominado "put-outer" (nosso "apagueiro"). Já no sétimo e final, quando Rony o recebe, lemos no testamento de Dumbledore "Deluminator". É possível notar, também, que no primeiro livro lemos "put-outer" com letras minúsculas e entre aspas, o que já indica que não é um nome "oficial".

E quanto aos títulos dos livros? Muitos têm problemas com os do segundo e do sexto (enquanto eu prefiro apreciar o do sétimo), que traduzidos literalmente seriam "A Câmara dos Segredos" e "O Príncipe Mestiço". Não sei se sou a única a recordar, mas, em Câmara Secreta, em certas passagens, a câmara é referida como Câmara dos Segredos, enquanto, em Enigma do Príncipe, o príncipe é conhecido como Príncipe Mestiço. E quem disse que não fazem sentido, os títulos?! A câmara podia guardar segredos, mas não deixa de ser secreta! E, afinal de contas, o tal príncipe não é um enigma? Ninguém sabia sua verdadeira identidade. Então, contrariando a grande massa, afirmo com toda a certeza que, em português, prefiro os títulos "Wylerianos".

Talvez eu tenha acabado de ressuscitar uma polêmica antiga, não sei. Deixei passar muita coisa, como o James/Tiago e nosso "Jerry" Potter do sexto livro, e até mesmo variações de nomes de livro para livro, como Cátia/Katie e Quim/Kingsley, trocadilhos e jogos de palavras e erros em geral (os quais, em sua maioria, atribuo mais à edição dos livros do que a própria tradutora) mas suponho que minha intenção tenha ficado bem clara: Um texto falando sobre a genialidade de Lia Wyler com poucos exemplos, buscando convencer alguns de que suas traduções são coerentes e interessantes. E, para os que argumentam com o velho "isso é tão 'nada a ver'", eu só digo uma palavra: Pesquise.



ATUALIZADO: Enviamos mais e-mails a Lia Wyler, e ela nos esclareceu algumas dúvidas, que estão logo abaixo!

> Sirius ou Sírio? "A rigor todos os nomes latinos sofreriam a alteração us> o, comum na língua portuguesa. Muitos leitores raclamaram e a editora resolveu atendê-los pela metade. Sírius, no entanto, é o nome de uma estrela brilhante conhecida por esse nome em português. Fiquei na dúvida, porque já alterara os anteriores, mas decidi por mantê-lo. "

> Tom Riddle e Jerry Potter? "Jerry foi erro grosseiro de digitação e não devia ter sucitado nenhuma polêmica."

> Uma possível explicação para críticas negativas? "Um outro fator que contribuiu para certa confusão foi os leitores paulistas que sabem muito ou algum inglês terem lido a obra em inglês americano, desconhecendo que essa edição sofreu várias alterações para tornar a obra mais inteligível nos Estados Unidos. A propósito os britânicos se vingaram dizendo que o título A pedra Filosofal na América foi trocado para The Sorcerer´'s Stone, porque nos Estados Unidos não há filósofos)."



ATUALIZADO 2: O membro da equipe Daniel, que cursa Letras, foi considerado mais apto a pensar e enviar mais algumas dúvidas a Lia. Seguem as perguntas e respostas:

Daniel: Em Cálice de Fogo, no episódio da terceira tarefa do Torneio Tribruxo, a tradução brasileira traz uma resolução diferente ao enigma da esfinge que protege a Taça-prêmio: ararambóia. Foi a melhor opção pra nossa língua? O tradutor pode então mudar um enigma? Por que não 'aranha'?

Lia: Às vezes em tradução não se leva em conta apenas o trecho a ser traduzido,
mas o que veio antes e o que vem depois. Uma vez que fui obrigada a mudar o enigma – consulte a p. 500 da edição da Rocco – fui obrigada a mudar igualmente a solução.

Não sei como os meus colegas lidaram com o enigma em inglês que fazia alusão
a um espião. Não posso traduzir a palavra “spy” que inicia o enigma para ter
como resultado “spider”, logo, mudo o enigma. Ararambóia é algo que ninguém
beijaria – veja o significado no dicionário. O importante não é o continente, mas o conteúdo, no caso o fato descrito -- Harry Potter foi capaz de decifrar o enigma proposto pela Esfinge.

Daniel: Como J.K Rowling auxiliava nas traduções? Ela certamente tem grande conhecimento na área, pela sua formação, e mesmo no português por ter lecionado em Portugal; mas ela dava dicas como alguma bibliografia para as etimologias na onomástica e topografia, por exemplo? O trabalho de pesquisa em relação às referências clássicas é difícil?

Lia: Ela não me auxiliava nas traduções, mas no início, quando lhe pedi permissão para traduzir os significados recebi uma longa lista de nomes perguntando qual a equivalência que lhes daria. A autora aprovou o meu currículo e as minhas respostas. A partir do terceiro ou quarto volume apareceu na Internet um site que respondia às dúvidas de tradutores e leitores dando a etimologia dos termos usados por J.K. Rowling, mas por questão de direitos autorais foi retirado do ar. A queixa da falta de auxílio aos tradutores é mundial e tivemos ocasião de discutir isso na reunião que a UNESCO organizou em Paris para os que contribuíram para o sucesso da saga. A pesquisa clássica não foi difícil, cheguei mesmo a traduzir um texto de Ésquilo. Há amplo material sobre os clássicos em todos os idiomas.

Daniel: A variação linguística dos falares mais “populares” ou “caipiras” como o de Hagrid foi transmitida?

Lia: O falar de Hagrid não foi traduzido por decisão da tradutora e da editora. A
razão? Que falar o Hagrid deveria usar? O do favelado carioca, o do caipira paulista ou mineiro, o do nordestino, o do marginal? Isso seria um desvirtuamento do personagem que em vez de ser um “rústico” inglês entraria em crise existencial falaria um patuá alheio ao seu ambiente.

Daniel: O trabalho de revisão na editora deveria ser mais cuidadoso, no caso de erros de digitação? Até onde a ortografia gramaticalmente à risca é culpa do tradutor?

Lia: Não sei se entendi sua pergunta, mas vou responder o que entendi. Realmente deveria ser mais cuidadoso e isso seria possível se as editoras recebessem o material com antecedência e não fossem pressionadas a lançar os livros da série na mesma data – ou quase -- no mundo inteiro. A ortografia e a correção gramatical são responsabilidade dos revisores que trabalham na editora.

Daniel: Uma questão frequentemente levantada é a consulta de variadas traduções (em outros idiomas) para achar a melhor saída em algum dilema. Na literatura contemporânea isso também ocorre? Com HP você manteve contato com mais tradutores?

Lia: Os tradutores da série Harry Potter mantiveram contado através de uma lista de discussão reservada, mas não interferiam nas escolhas feitas pelos indivíduos, uma vez que as premissas que adotaram diferiam de país para país.



ATUALIZADO 3: A Paty selecionou mais dúvidas, algumas das quais surgidas nos comentários deste post, e hoje Lia respondeu ao e-mail. As perguntas e respostas se encontram abaixo, no mesmo esquema que a atualização anterior:

Patrícia: Foi colocado por alguns comentaristas que os nomes "Uón Uón" e
"Moliuóli" não exprimem o exato significado das expressões em inglês, sendo
uma tradução mais sonoro. A meu ver são palavras que transmitem um valor ao
contexto em que estão inseridas, causando vergonha em Rony e Molly Weasley,
no caso. Imagino que estas traduções sejam muito difíceis de realizar, pois
estão ligadas aos trocadilhos que J.K. Rowling espalha por toda a série,
como você optou por essas escolhas?

Lia: Quando um tradutor esgota todas as possibilidades de traduzir os jogos de
palavras ele precisa manter a intenção óbvia do autor. No caso que você cita, ressalto o ridículo dos apelidos carinhosos que só não são ridículos para os envolvidos. A família e os amigos se absteem de repeti-los. Daí o recurso à tradução sonora como fiz em outros trechos. No caso do rock-roque por exemplo.

Não são opções fáceis e o tempo é muito curto. Às vezes me ocorrem no dia seguinte quando acordo. Claro que recorro ao acervo de informações em inglês e português que acumulei fora da escola durante a vida.

Patrícia: Em discussões sobre traduções, alguns dos argumentos mais usados questionando o trabalho feito de Harry Potter são a tradução de Plataforma nove e meio e o título do sexto livro da série. Acredito serem mudanças aplicadas por uma questão cultural e que em nada afeta a trama da saga, você
poderia nos explicar um pouco sobre estas escolhas?

Lia: O caso da Plataforma 9 ½ se enquadra no argumento que usei acima. A intenção
óbvia aí era numerar uma plataforma intermediária que só existe para um
bruxo, e só pode ser inteiramente entendida se pensarmos em uma criança de
9-12 anos para quem foi escrito o livro. De 9 a 12 anos uma criança ainda
não cristalizou o conhecimento de frações, e tampouco usa “quarto” na
acepção que é entendida e usada pela criança inglesa. Foi portanto uma
tradução cultural. Veja quantos significados você própria – não sei que
idade tem – conhece para a palavra “quarto”. Expliquei isso há 10 anos
quando o primeiro volume foi lançado, mas os leitores continuam a discordar
da minha opção. Cada cabeça uma sentença, certo?

Quanto ao título do sexto livro ele foi escolhido pela própria Rowling entre
três opções que os tradutores apresentaram. Aparentemente ela concordou
comigo que a identidade do tal príncipe permeava toda a trama, portanto, era
o grande enigma a ser decifrado.

A palavra “bastardo”, que no Brasil só era usada historicamente, não se
aplica na sociedade contemporânea. Etnicamente mestiços somos todos nós
brasileiros. Quanto à palavra mestiço aplicada aos os impuros de sangue,
acho que nem vale a pena discutir.

Patrícia: A escolha de Servolo substituindo Marvolo serviu perfeitamente
para manter o jogo de palavras, mas existiu algum outro motivo para esta
escolha? E em relação a tradução de "Kreacher" para Monstro, como aconteceu?

Lia: Os tradutores do mundo inteiro – 68 – tiveram que mudar o nome do meio do
bruxo. Escolhi Márvolo [Servolo]. Quanto a Kreacher que foneticamente pode ser
entendido como “creature”. Eu podia escolher fera, bicho, monstro que é o
caso dele em minha opinião (tradutor também tem preferências). É claro que
você pode pensar como o Dumbledore e justificar a revolta do Monstro, mas eu
não sou personagem...

Patrícia: E por fim, o assunto mais recorrente na discussão foi a
desvalorização da nossa língua, que faz com que muitos fãs brasileiros não
enxerguem com bons olhos a tradução nacional, pois valorizam muito o idioma
inglês. Como você vê esta questão?

Lia: Veja a desvalorização com muita tristeza. Um mundo globalizado para mim
significa que os produtos culturas de cada país são apreciados e divulgados
pelas potências hegemônicas tal como são. Não significa pasteurização. Eu
entendo que o indivíduo colonizado ache a cultura hegemônica mais atraente e
queira a ela pertencer, mas acho isso uma relação muito parecida com a do
torturador e do torturado. Você faz o jogo do dominador, abre mão do que
pensa, mas jamais será considerado um igual.

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