sábado, 31 de julho de 2010

Os Floreios e os Borrões de Joanne


Trinta e um de julho. Hoje é um grande dia... É a minha estreia no Da Penseira!

Tá bom, tá bom, vamos falar daquela inglesa responsável pela existência dessa bacia de pedra. O texto que segue visa estar em sintonia com a corrente #WhyILoveJK, que com sucesso homenageia a nossa diva autora que tanto estimamos.

Acalme-se, pois, você não vai se emocionar numa retrospectiva lamuriosa nem estufar o peito com a longa lista de honrarias da Sra. Rowling – a minha reflexão hoje pende para o ofício da aniversariante: a sua escrita. Portanto, se veio sorrir ou chorar, recolha seus fiapos túrgidos de pesares, não sou dessas veredas.

Você certamente sabe que a primeira obra escrita por Joanne definitivamente não foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Muito pequena, nos tempos em que lia coisas como "O Cavalinho Branco", ela se divertia escrevendo as aventuras de Coelho, o coelho!

Sempre gostou de contar história para sua irmã e garante em seu site que nem sempre precisava sentar na pobre Di para que ela prestasse atenção. Entre mudanças de endereço e colégio, enquanto esburacava carteiras com o compasso em Wyedean e se perdia em passeios noturno no Ford Anglia de Rony, ops, de Sean Harris, seu amigo de juventude a quem Câmara Secreta é dedicado, ela sempre esteve escrevendo.

Com nove anos de idade, mudou-se para Tutshill, onde morou perto de um cemitério, fonte recomendada para vários nomes recorrentes em Harry Potter. Com quinze, Rowling descobriu que sua mãe contraíra a esclerose múltipla. Não compreendia tão bem o que isso significava, observava com pavor o estado de Anne piorar lenta mas persistentemente.

Estudou Francês e Línguas Clássicas, tendo morado em Paris, onde concluiu a graduação, e em Portugal, onde deu aulas de Inglês.

A mais bem sucedida ideia de sua vida ocorreu-lhe há vinte anos, durante uma viagem atrasada de trem de volta a Londres (ela havia saído para procurar uma estadia em Manchester). Tudo simplesmente surgiu em sua cabeça e a coisa foi crescendo e se desenvolvendo em quatro horas de atraso, até que ela conseguisse uma caneta para grafar a abençoada epifania, tendo passado tempo o suficiente para que muito se esvaísse de sua genial mas ainda humana mente.

A autora nos relata que foi bom não estar com uma caneta naquele trem, pois ela haveria de diminuir o ritmo das ideias para que pudesse retê-las no papel, o que seria particularmente perigoso. Na mesma noite o primeiro livro da série Harry Potter começou a tomar forma.

Em 30 de dezembro de 1990, um dia antes do aniversário (se é que podemos chamar isto de vida) de Lorde Voldemort na saga, a morte da mãe de Joanne mudou para sempre o mundo da autora e da sua criação. Anne faleceu com apenas quarenta e cinco anos, idade que J.K completa no dia de hoje. Os sentimentos de Harry sobre seus pais mortos tornavam-se muito mais profundos, muito mais reais, enquanto a autora lutava pelas poucas horas que tinha pra escrever, posto que lecionava à tarde e à noite.

Este dia que separa Morte e Nascimento – e lembremos aqui que o nascimento de Tom advém da morte da mãe -, ao estabelecermos uma relação dos fatos, faz toda a diferença no tratamento que J.K dá às consequências da morte na saga. Harry a presencia pela primeira vez, conscientemente, em seu quarto ano, no tenebroso assassinato de Cedrico. No entanto, podemos observar um intervalo de tempo significativo para que o personagem possa 'digerir' o evento. Somente no início do próximo ano letivo Harry é capaz de ver os testrálios, quando conhece Luna, que perdera a mãe aos nove anos – idade de Rowling quando teve a primeira perda: o falecimento de sua avó paterna Kathleen.

É ousadia apontar a saga como biografia alegórica de sua criadora, como a Divina Comédia está para Dante, mas estes paralelos ajudam a explicitar o método e o processo de criação, que, em qualquer autor, escorre de forma sutil ao espremermos certos pontos de ambos os lados.

Os manuscritos de Joanne cresciam,e, após o nascimento da primeira filha, Jessica, de um relacionamento que não dera certo, ela lutou com os poucos recursos que tinha em um frenesi para a conclusão do primeiro livro Potter. Aproveitava-se do sono de Jessica para adentrar o café mais próximo e escrever loucamente. Tendo de datilografar e organizar tudo sozinha, chegou por vezes a odiar o livro, mesmo o amando. Certo dia ela o concluiu. Após várias editoras recusarem especialmente por achar um livro demasiado extenso para crianças, a Bloomsbury se interessou. Foi lançado em 1997. Cinco meses depois começou a ser premiado e imediatamente se transfigurou numa epidemia editorial que por fim contaminou o mundo inteiro.

No site da autora, podemos nos deliciar com algumas relíquias dessa história. Desvendando os segredos do site, recebemos manuscritos e desenhos antigos da concepção do mundo mágico que ela estava criando.

Muitas vezes usando uma letra absurdamente reduzida, a autora rabiscava cada centímetro de folhas velhas de caderno, borradas e manchadas com tinta de caneta, amassada pela aglomeração de pedaços da saga. No documentário “Harry Potter and Me”, temos um breve vislumbre da enorme papelada que Jo coleciona, dos quais temos acesso a míseras quinze representações.

Destas, destaca-se a planilha de Ordem da Fênix, em que ela estrutura cronologicamente os diversos acontecimentos paralelos, pela perspectiva de Snape, de Harry, da Ordem da Fênix, do Ministério, entre outros. A dimensão do conteúdo preparado é o que mais surpreende, embora seja frustrante não termos, hoje, a menor ideia de quem seria Enid Pettigrew (a mãe de Rabicho, que recebera uma Ordem de Merlim? Seria ela professora em Hogwarts?), de por que não haver uma explicação detalhada para os atributos do Dragão Português de Longo Focinho no “Animais Fantásticos & Onde Habitam” e por que Mopsus não chegou a professor, entre outros.

Os desenhos também podem ser muito intrigantes. Na ilustração da autora para o capítulo “Duelo à Meia-noite”, há um tal Gary na turma da Grifinória. Um antigo nome para Simas? Para Dino eu não creio que seja, pois no site a autora revela algo dos planos que tinha desde há muito para este.

As referências clássicas presentes a todo o momento na heptalogia são um mundo à parte, há um universo de intertexto a ser explorado, mas isso é tema para outra reflexão...

De uma coisa, por ora, podemos ter certeza: o longo processo de criação de cada um dos volumes exigiu muito trabalho e carinho, e pouco do que foi criado chega às nossas mãos. Podemos esperar ansiosamente pela Enciclopédia, devemos ter esperanças com relação ao conteúdo. Ou, nunca deixa de ser uma boa ideia, devoremos pela enésima vez os livros e extraiamos mais um pouco de cada detalhe, afinal a riqueza em Harry Potter sempre revela algo que deixamos passar.


Apêndice:

Biografia de J.K Rowling, do seu site (traduzida pelo Potterish).

Site da autora (disponível em diversos idiomas).

Documentário Harry Potter and Me (legendado pelo Potterish).

6 comentários:

  1. Amei *--*

    Sempre tem algo do autor naquilo que ele escreve. Sei disso por experiência própria,pois escrevo fanfic's e sempre tem algo meu nelas. Seja uma característica física, um traço de minha personalidade ou uma expressão que costumo usar.

    JK é genial, e sempre será <3

    ResponderExcluir
  2. Aprouve-me deveras o texto... É fluido, interessante e, em certa medida, informativo.
    A história do processo de produção dos livros é fascinante! Todos os acontecimentos marcantes na vida dela influenciaram o universo Potter. Daí é que afirmei que ela é o que escreve. Não como em uma biografia, mas como, realmente, a expressão alegórica da personalidade, idiossincrasias e vivências diversas.

    Quando assisti a Harry Potter and Me pela primeira vez, cobicei profundamente aquele amontoado de materiais inéditos... É realmente estupenda a vastidão do conteúdo! Anseio por uma compilação maravilhosa de todo aquele material em um volume magnífico que será o Livro Escocês ou a Enciclopédia. Mal posso esperar por ele, embora sinta que o processo será terrivelmente moroso.

    Enfim, achei o texto ótimo, fidedigno e deveras apropriado a esta data memorável em que faz aniversário a egrégia e genial J. K. Rowling.

    ResponderExcluir
  3. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, TEXTO DO DAAAAAAAAAANZIIIIIIIIIN!!!! MORRIIIIIIIIIIII!!!!!

    Pô, cara, parece que vc evoluiu bastante na escrita =D É um texto sério, e como disse o Luan, interessante e até informativo, mas mesmo assim vc conseguiu demonstrar suas emoções sutilmente, sem ficar meloso ou robótico xD Gostei e espero que vc use essa porra de motivação para escrever em blogs e termine a fanfic, e quem sabe, os seus fãs não farão homenagens que nem essa pra vc =P

    Ass: Miguxin S2 kkkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir
  4. PS: E claro que minha parte ficaria melosa e emocionante hehe s2

    =P

    ResponderExcluir
  5. Bem legal a reflexão!!
    O autor sempre põe um pouco de si na própria obra, assim como o ator deve sempre colocar um pouco de si na atuação para torná-la mais do um simples conjunto de falas.

    Mudando de assunto, posso sugerir uma análise?
    (Já sugerindo...) Os professores, antes de ser contratados, não passam por avaliação? Como que Dumbledore, especialmente ele, não percebeu o Voldemort escondido sob o turbante de Quirrel? E como que Gilderoy foi contratado, e se manteve no cargo, se na primeira aula já demostrou falta de aptidão para lecionar?
    Só dúvidas aleatórias... hehe.

    Adoro o Da Penseira!!!

    ResponderExcluir
  6. Rodopios novos, instigantes e atrevidos, hummmm

    Uma boa sugestão, Letícia. Polêmica com o tio Dumbie é sempre bem-vinda.

    ResponderExcluir